sexta-feira, 22 de março de 2019

ARTHUR RIMBAUD - Adeus


ARTHUR RIMBAUD
(França, 1854 - 1891)
Poeta

***
ADEUS 

Sim, ao menos a hora nova é severíssima.

Posso dizer que tenho a vitória adquirida: o ranger de dentes,  os silvos de fogo, os suspiros pestilentos abrandaram. Todas as memórias imundas se apagam. Vispam-se os meus últimos remorsos, - ciúmes dos mendigos, dos salteadores, dos amigos da morte, dos ignaros de toda a sorte. - Malditos, se eu me vingasse!

Temos de ser modernos absolutos.

Cânticos nunca: manter o passo adquirido. Dura noite! O sangue seco fumeia no meu rosto, e nada atrás de mim, só a arvorezinha horrível!... O combate do  espírito é tão brutal como batalha de homens; mas a visão da justiça é prazer só de Deus.

Vigília, no entanto. Recebamos todos os influxos de vigor e de ternura autêntica. E pela aurora, armados com ardente paciência, entraremos na cidade esplêndida.

Falava eu de mão amiga! Um bom proveito, é poder rir-me das velhas afeições enganosas, e ferrar de vergonha esses casais de engano, - eu vi aquele inferno das mulheres; - e ser-me-á dado possuir a verdade dentro de uma alma e num corpo.



Tradução: Filipe Jarro
 




Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...