domingo, 17 de março de 2019

BEATRIZ COSTA – Sem Papas na Língua! - (I)



BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907 - Lisboa, 1996)
Actriz de teatro e cinema

***

 SEM PAPAS NA LÍNGUA

Não vou falar aqui, no pórtico deste livro, Sem Papas na Língua, de Beatriz Costa, artista de teatro e cinema, de sua personalidade no palco, de uma carreira de triunfos no Brasil e em Portugal, não vou relembrá-la como a vi fulgurante no Casino da Urca, no Casino Antárctica, no Teatro Recreio, a emoção e o riso, os aplausos infindáveis. Seria ridículo fazê-lo, quem não sabe de Beatriz e da importância de sua arte? Não falarei tampouco da amiga devotada, encantadora. Aqueles que possuem o privilégio da amizade de Beatriz Costa sabem da constância e da força de seu devotamento, a amizade é sua religião.

Quero dizer, isso sim, que com este livro ganhamos um memorialista de primeira ordem. Do despojamento de qualquer pretensão nascem as qualidades múltiplas da autora. Eu a vejo rodeada de amigos, quem mais soube fazer e guardar amigos? 

Eu a vejo rodeada de amor, do amor do povo. Dos povos, direi melhor, povo de Portugal, povo do Brasil. Lá e cá, jamais a gente das ruas a tratou de ilustre artista, de dona, de senhora, de distante e gloriosa figura. «Srª D. Beatriz», a Beatrizinha, nascida do ventre fecundo povo, sua filha, sua irmã, sua mãe ao recriá-lo, poderoso de raiva, desatado em riso, invencível no palco. Para Beatriz Costa, palco e vida foram e são uma única coisa, indivisível.

Paris, Julho de 1974

JORGE AMADO


in “Sem Papas na Língua” – Memórias - 1974 

(continua)


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