CABRAL DO NASCIMENTO
(Funchal, Madeira, Portugal,
1897 - Lisboa,1978)
Poeta, tradutor, historiador
***
TEATRO
Era
uma vez um menino
Em
seu jardim a brincar.
(Brincar,
brincar, não brincava,
Sempre,
sempre a meditar!)
Os
outros vinham de longe
E
a correr, para o levar.
(Correr,
correr, não corria,
Porém
ficava a cismar).
Na
tarde de oiro se ouviam
Seus
gritos enchendo o ar.
(Ele
gritar não gritava,
Mas
calava-se a pensar).
O
mundo andava de roda
E
tudo em volta a girar!
(Ele,
porém, ali estava
Só
a ver, a contemplar).
E
tudo quanto se via,
E
tudo quanto passava,
Nos
seus olhos se detinha,
Na
sua alma ficava.
Tenho
sido espectador
E
toda a vida o serei.
Ah,
estar de fora da dor,
Aquém
do palco do riso,
Longe
da arena do mundo!
É
insensatez? É juízo?
É
bom? É mau? Não no sei.
Mas
quanto drama profundo,
Devagar,
devagarinho,
Sem
voz, sem gesto, sem cor,
Se
infiltra tão de mansinho
Na
alma do espectador!
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