sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sabíamos do mar sem o sabermos

 
 
 

 
Sabíamos do mar sem o sabermos

 

Sabíamos do mar sem o sabermos,
do mar dos mapas, da cor azul do mar,
dos naufrágios no mar,
do sol solto no mar.


Sabíamos do mar sem o sentirmos
nos poros dilatados pelo mar,
o verdejante mar escalando as montanhas
tão bruscas como o sal.


Sabíamos do mar em sinuosos sinos
assinalando a noite
com corações arrepiados,
abertos como mãos
sulcadas de cabelos e molhadas
de rugas e escamas.


Sabíamos do mar em signos, símbolos,
tropos e metáforas.
Sabíamos do mar?
Sabíamos o mar.
Sabíamos a mar

 

António Rebordão Navarro, poeta português, in “Poemas”.

Ilustração: quadro de William Turner (1775-1851), pintor do romantismo inglês.


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