sábado, 31 de maio de 2014

O Espectro da Rosa

 
 
 
 

     O Espectro da Rosa

Levanta a tua pálpebra fechada
Tocada por um sonho virginal!
Eu sou o espectro de uma rosa
Que tu, no baile, usaste na noite passada.
Tu me colheste ainda com pérolas,
Do chuveiro de prata refrescada,
E entre a festa estrelada
Tu me passeaste toda a noite.

Ó tu que da minha morte foste a causa,
Sem que tu possas escapar,
Todas as noites o meu espectro se levantará
E à cabeceira da tua cama virá dançar.
Mas nada receeis, eu não reclamo
Nem missa nem De Profundis,
Esta fragrância é a minha alma
E eu venho do Paraíso.

O meu destino foi digno de inveja,
E para ter uma sorte tão bela
Muitos teriam dado a sua vida,
Porque sobre o teu seio eu tenho o meu Túmulo
E sobre o alabastro onde eu repouso,
Um poeta, com um beijo,
Escreveu: "Aqui jaz uma rosa,
Que todos os reis vão invejar.

 
 
Théophile Gautier (1811-1872) poeta francês
Tradução: Maria de Nazaré Fonseca
Ilustração: quadro do pintor romeno Emilian Lazaresco (1878-1934)

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