sexta-feira, 10 de outubro de 2014

De que me riu eu?

 
 
 
 
 
 

             De que me riu eu?

 
De que me rio eu?... Eu rio horas e horas

só para me esquecer, para me não sentir.

Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;

passo a vida febril inquietantemente a rir.
 
 
Eu rio porque tenho medo, um terror vago

de me sentir a sós e de me interrogar;

rio pra não ouvir a voz do mar pressago

nem a das coisas mudas a chorar.

 

 Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de mim

 o mistério de tudo o que me cerca

 e a dor de não saber porque vivo assim.

 

 
António Patrício (1878-1930), escritor e poeta português.

Imagem: pintura de Caspar David Friedrich (1774-1840)

 

 

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