De
que me riu eu?
De
que me rio eu?... Eu rio horas e horas
só
para me esquecer, para me não sentir.
Eu
rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
passo a vida febril inquietantemente a rir.
Eu
rio porque tenho medo, um terror vago
de me
sentir a sós e de me interrogar;
rio
pra não ouvir a voz do mar pressago
nem a das coisas mudas a chorar.
Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de
mim
o mistério de tudo o que me cerca
e a
dor de não saber porque vivo assim.
António
Patrício (1878-1930), escritor e poeta português.
Imagem: pintura de Caspar David Friedrich (1774-1840)
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