Ouve,
Meu Anjo
Ouve,
meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Tentou,
severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!
A carne do assassino
É como a do virtuoso.
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!
A carne do assassino
É como a do virtuoso.
Numa
atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Na
vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia…
A chuva, leve, tinia…
Ele
apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
António
Botto, in “Canções”
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