segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Cancioneiro Popular – (XIV)

 
 
 
 
 
 
 

As Flores

 

 

A rosa tem vinte folhas,
o cravo têm vinte e uma.
Anda a rosa em demanda
Porque o cravo tem mais uma.

 
Eu sou cravo, tu és rosa,
Qual de nós valerá mais?
Eu, cravo, pelas janelas;
Tu, rosa, pelos quintais.

 
- Manjaricão da janela,
Que tendes, que estais tão murcho?
- Foi ano muito seco,
Ficar eu verde foi muito.

 
O alecrim desta terra
Não é como o da minha.
Este tem a folha larga,
O meu tem-na miudinha.

 
Ó alecrim, rei das ervas,
Quem te dispôs no caminho?
Quantos passam e não passam
Todos tiram seu raminho.

 
O cravo tem vinte folhas,
A rosa tem vinte e uma:
Anda o cravo à demanda
Por a rosa ter mais uma.

 
Rosa branca, toma cor,
Não sejas tão desmaiada,
Que dizem as outras rosas:
- Rosa branca não val'nada

 
Contarei às flores
Todo o meu sofrer
Porque sei que as flores
O não vão dizer.

 

Cancioneiro Popular Português de J. Leite de Vasconcellos
Imagem: quadro da pintora brasileira Maria José Marinho.


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