RAUL
DE CARVALHO
(Alvito,
Baixo Alentejo, Portugal, 1920 – Porto, 1984)
Poeta
As memórias da infância
passadas no Alentejo manifestam-se em todos os seus livros de cunho
autobiográfico. Chegou a Lisboa na década de 40 e tornou-se frequentador do
café Martinho da Arcada, contactando com personalidades do meio literário.
Preocupado com a condição
dos mais desfavorecidos, assumiu algumas afinidades com os neo-realistas.
Conjugou esta preocupação com a aprendizagem de uma liberdade surrealista.
Foi
colaborador das revistas “Távola Redonda”, “Cadernos de Poesia” e “Árvore”, de
que foi co-director (1951-1953).
Em 1956 recebeu o «Prémio Simon Bolívar», no Concurso
Internacional de Poetas de Siena, em Itália.
in “Instituto Camões”
***
Algumas das suas obras: As
Sombras e as Vozes, Poesia, Tautologia, Mágico Novembro, Um mesmo livro.
***
CEREJAS BRANCAS
De
cerejas brancas, de estrelas vermelhas de lábios azuis,
Era
a tua voz. Doce, docemente. Inocentemente.
Dizia
palavras, dizia palavras... Alucinações.
Monstros e promessas. Magia, segredo. Artes do Diabo.
Reflexos tristes da luz
que nos foge, da luz que anda à solta e nos deixa presos.
Ouço
a tua voz chamando, chamando...
Ah!
nenhum de nós somos os culpados!
Docemente
extinta. Inocentemente.
Um
círculo da Lua rodeia teus braços,
Um
raio de Sol te dirige os passos.
É
a tua voz! de menino e moço!
Ah!
quanta ternura tem a tua voz,
Quanto
beijo que jamais fora dado,
Quanta
linda festa que logo interrompida,
Quanto
abraço que desejaste dar ...
Ouço
a tua voz. É som ou desmaio?
É
quebranto? É música? Sai do coração?
Ouço
a tua voz, que respeita e ama,
Como
irmão mais novo a irmão mais velho.
Diz-me
que é inútil. Que essa tua voz
Não
é verdadeira, porque sofrerás...
Embora
me tragas, sem eu saber como,
Alguma
alegria, um pouco de paz!
Queira
Deus que tu, irmão meu, encontres
Alguém
que ao ouvi-la, quando estiveres só,
Te
ame e compreenda, te ouça e adormeça,
Te afirme que tens um lugar no Mundo...
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