JOSÉ
AGOSTINHO BAPTISTA
(Madeira,Portugal,1948)
Poeta
e tradutor
Os seus primeiros escritos
foram publicados no final dos anos 60 no Suplemento Juvenil do “Diário de
Lisboa”.
Poeta na linha dos poetas românticos ingleses, fez traduções e
colabora na revista “Ler”.
Algumas das suas obras: Deste Lado onde, Jeremias o Louco, O Último
Romântico, O Centro do Universo, Paixão e Cinzas, Debaixo do Azul, sob o Vulcão,
Filho Pródigo.
n “Portugueses Célebres”
***
Palavras
de
José
Agostinho Baptista
“É
terrível quando as pessoas, hoje, não sabem se está sol ou chuva, não olham o
céu... Olham o ecrã da televisão, esse animal monstruoso, que roubou quase tudo
ao homem.”
DESPEDIDA
Uma
harpa envelhece.
Nada
se ouve ao longo dos canais e os remadores
sonham
junto às estátuas de treva.
A
tua sombra está atrás da minha sombra e dança.
Tocas-me
de tão longe, sobre a falésia, e não sei se
foi
amor.
Certo
rumor de cálices, uma súplica ao dealbar das
ruínas,
tudo
se perdeu no solitário campo dos céus.
Uma estrela caía.
Esse
fogo consumido queima ainda a lembrança do
sul,
a sua extrema dor anoitecida.
Não
vens jamais.
O
teu rosto é a relva mutilada dos passos em que me
entristeço,
a absoluta condenação.
Chove
quando penso que um dia as tuas rosas floriam
no
centro desta cidade.
Não
quis, à volta dos lábios, a profanação do jasmim,
as
tuas folhas de Outubro.
Ocultarei,
na agonia das casas, uma pena que esvoaça,
a
nudez de quem sangra à vista das catedrais.
O
meu peito abriga as tuas sementes, e morre.
Esta música é quase o vento.
in “Paixão e Cinzas”
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