quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

STEPHEN SPENDER - Regum Ultima Ratio




STEPHEN SPENDER
(Londres, Inglaterra, 1909 – 1995)

Poeta, romancista e ensaísta



REGUM ULTIMA RATIO

As armas inscreveram a última razão do dinheiro
A letras de chumbo na encosta primaveril.
Mas o rapaz que está morto sob as oliveiras
Era jovem demais e por demais incauto
Para ter sido notável a seus olhares importantes
Era melhor alvo para um beijo.

Enquanto viveu nunca esguios apitos de fábrica o convocaram
Nem portas envidraçadas de restaurante rodaram para que ele entrasse
O nome dele nunca veio nos jornais.
O mundo mantinha a tradicional muralha
Em torno dos mortos com seu oiro no fundo do poço
Enquanto a vida dele, intangível como um rumor, flutuava ao largo.

Oh com que leviandade ele atirou ao chão o barrete
Um dia em que das árvores a brisa tirava pétalas.
Da muralha sem flores brotavam armas ;
A metralhadora colérica ceifava velozmente as ervas;
Bandeiras e folhas tombavam das mãos e das árvores;
O barrete de pano apodrece nas urtigas.

Considerai-lhe a vida, que era sem valor
Em termos de emprego, registos de hotel, notícias de jornal.
Considerai: uma bala em dez mil é que mata um homem.
E perguntai: era justificada uma tamanha despesa
Com a morte de alguém tão incauto e jovem
Estirado sob as oliveiras, Ó mundo, Ó morte?



Tradução: Jorge de Sena


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