sexta-feira, 31 de março de 2017

CECÍLIA MEIRELES - Despedida





CECÍLIA MEIRELES
(Rio de Janeiro, Brasil, 1901 – 1964)

Poetisa, escritora e professora


DESPEDIDA

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.


Imagem: Cecília Meireles em Lisboa. Desenho de Fernando Correia Dias.


quinta-feira, 30 de março de 2017

TEMPLO I, TIKAL





TEMPLO I, TIKAL

O Santuário maia na Guatemala


Erguendo-se acima do dossel da Floresta Tropical, as pirâmides da cidade maia de Tikal dominam a paisagem. 

A civilização maia floresceu durante a época clássica entre 300 d.C. e 900, mas entrou num declínio abrupto e as suas grandes cidades foram abandonadas quinhentos anos antes da conquista da América do Sul pelos Espanhóis no século XVI. 

Escavações descobriram grupos de plataformas e estrutura de pedra dispersas por uma área de perto de sessenta e nove quilómetros quadrados. No centro dessa cidade, ligada por largas calçadas entre grupos específicos de edifícios, encontra-se uma praça central rebocada, com oitenta e cinco por sessenta e sete metros. Em frente uma da outra, de cada lado da praça, estão duas torres, a maior conhecida por Templo I ou Templo do Grande Jaguar (c.500 d.C.) 

Os grupos de edifícios compartilham uma relação geomântica, sugestiva duma hierarquia urbana e dum alinhamento solar e astral. 

Os interiores dos templos são pequenos e simples. Elevados bem acima da praça, indicam uma finalidade cerimonial elitista afastada das multidões reunidas em baixo. 

O centro urbano, com uma população calculada ao redor de cinquenta mil pessoas no seu auge, vivia dum vasto império agrícola, com ligações culturais às cidades afastadas da mesma época. Esses monumentos, agora isolados entre um emaranhado de vegetação, falam-nos silenciosamente duma misteriosa cultura perdida.



in “Arquitectura” de Neil Stevenson





quarta-feira, 29 de março de 2017

LUÍS CARLOS DA SILVA, "O PETROLINO"




LUÍS CARLOS DA SILVA, O PETROLINO
(Setúbal, Portugal, 1859 – (?)

Guitarrista

Ficou a dever a alcunha de Petrolino ao gorro que usara em novo, igual aos dos antigos vendedores ambulantes de petróleo. Ainda rapazito, estava um dia entretido à janela a dedilhar uma velha guitarra de cravelhas pertencente a um seu irmão, quando ali passou João Maria dos Anjos, que ao ouvi-lo logo reconheceu nele uma marcada vocação para aquele instrumento. A partir daí, com os ensinamentos daquele consagrado guitarrista, ao lado do qual se apresentou em público no Teatro Príncipe Real (depois Teatro Apolo) com apenas nove anos de idade, a carreira fulgurante de Petrolino havia de fazer dele o primeiro guitarrista português de projecção internacional. 

Fez parte da célebre Troupe Gounod, dirigida pelo grande bandolinista Carlos Braga (que era cego e só tinha quatro dedos numa das mãos) e integrado nesse conjunto de instrumentistas manteve-se a partir de 1899 durante quinze anos na Rússia, onde tocou para o Grão-Duque Sérgio, tio do Czar, num espectáculo a que também assistiu o embaixador português junto da corte de S. Petersburgo. E, com o mesmo conjunto, exibiu-se ainda em Berlim, em Paris e Bordéus.  

Petrolino, que actuando na Legação da Inglaterra em Lisboa aquando da visita a Portugal de Eduardo II, fora felicitado por este e pelo nosso Rei D. Carlos que muito haviam apreciado a sua admirável execução, distinguiu-se não só como instrumentista primoroso, que tocava como ninguém o Fado Choradinho, mas também como autor de variações, em especial das que compôs em Ré Maior e Ré Menor.                                        



in “Lisboa, o Fado e os Fadistas – Eduardo Lucena



terça-feira, 28 de março de 2017

ALMEIDA GARRETT





ALMEIDA GARRETT
(Porto, Portugal, 1799 – Lisboa, 1854)

Poeta, dramaturgo e orador


Permitam-me uns breves e rápidos traços do grande poeta, que a Comédia Portuguesa tem hoje a honra de comemorar como um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Garrett, é vergonha dizê-lo, é hoje quase um esquecido, ainda num meio tão abundante de poetastros ocos contemporâneos e de literatelhos de refugo, erguidos na mediania dum critério soez, a grandes homens, a artistas geniais, a sumos pontífices da prosa e do verso.

Mas o que é pior é que uma geração de decadentes, de invejosos cheios de ambição, de nulos cheios de prosápia, ou de ignorantes impados da natural ousadia da ignorância, os aceita e aclama.
Neste meio medram e frutificam, criando-se um mundo especial, de elogio mútuo, arrastando na cauda fátua da sua órbita, os crentes ingénuos, os desprevenidos, os simples.

Ninguém o desconhece: é o poeta fulano, o jornalista sicrano, o filósofo A, o pensador B, o pedagogista C, o romancista D… raça de ignorantes que esbarrou no primeiro ano das matemáticas ante o tenebroso enredo das operações com quebrados, ou baqueou de impotência ante a confecção dum período latino com menos de seis tolices por linha.

Derivando na lógica das consequências para os domínios vedados ao código, arremeteram com a arte, onde explodiram grandiosos e pertencem-lhe os melhores proventos, dispõem de reputações, criticam de papo, alcançam glórias, sobem, trepam!
Todos lhe sabemos os nomes e se receamos muitas vezes feri-los é porque o cardume é enorme e se não conseguem vencer na luta com as ferroadas do despeito cansam pela quantidade, pela insistência, pela audácia e é fácil perder a paciência ainda que se não perca a razão!

A par disto há um jornal que tem, há seis meses, aberta uma subscrição para uma estátua a Almeida Garrett e essa subscrição atingiu, em três dias, a fabulosa soma em que parou, até hoje, de 51 réis. É revoltante, ignominioso, inacreditável!

A Comédia Portuguesa protesta em nome do bom senso, da justiça, da dignidade e da altivez da crítica, em nome da parte sensata e honesta dos homens de letras, contra essa ignorância pretensiosa, contra esse pedantismo da mediocridade incensada, contra essa estupidez com foros de valia armada de ingratidões audazes, dedicando o número presente, à memória do grande literato português, grande entre os maiores, bravo soldado, político consumado, poeta extraordinário, profundo erudito, dramaturgo eminente.

É magnífica a lista das obras do grande poeta: Mérope, Catão, Camões, Cancioneiro, Líricas de João Mínimo, O Arco de Santana, A sobrinha do Marquês, O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, Folhas Caídas, Viagens na Minha Terra, Portugal na Balança da Europa.

Aumente-se na sua obra os seus magníficos discursos parlamentares e veja-se a grandeza do gigante que libertou a literatura do classicismo atrofiador, que foi o grande revolucionário, o reformador, como poeta e como romancista, que criou o moderno teatro português enriquecendo-o com o Frei Luís de Sousa, essa obra que no dizer de Teófilo Braga é “apenas o primor único na história de todas as literaturas dramáticas conhecidas".

Que admira que Portugal concorra para a estátua deste homem com 5 réis?
O contrário é que seria estranho! Garretts não nos faltam. É ir ao Martinho e escolher a dedo. Há-os por lá aos pares. E então nas redacções dos periódicos? e nas secretarias? Como cogumelos… e crescem e aparecem de chofre, como os supraditos em noite de orvalho.

Permitam-nos a franqueza e leiam-no como nós fizemos; temos a certeza de que lhe crescerá a glória, mesmo que não aumente a subscrição para a estátua.
E depois os grandes artistas não precisam de estátuas. Vivem no panteão da sua obra, onde irá depor eternamente o coração de todo o artista que ali penetrar às homenagens íntimas dos sinceros afectos e das lágrimas agradecidas.
Tudo o mais é banal e inútil.



in “A Comédia Portuguesa” - Crónica semanal de costumes, casos, política, artes e letras - 1889

Imagem: litografia de Almeida Garrett por Pedro Augusto Guglielmi (Biblioteca Nacional de Portugal).




segunda-feira, 27 de março de 2017

DEU-LA-DEU MARTINS - A Heroína de Monção




DEU-LA-DEU MARTINS
Século XIV

A Heroína de Monção


Estava-se em guerra com Castela. Vasco Gomes de Abreu ausentara-se em serviço do Rei de Portugal e o adiantado da Galiza, D. Pedro Rodrigues Sarmento, General de Henrique de Castela, decidiu aproveitar a ocasião e pôr cerco a Monção com um poderoso exército.

A vila aguentou o cerco apesar da falta de recursos de todo o género. Os alimentos eram escassos, os homens válidos muito poucos. Deu-la-Deu tomou o comando da praça e, durante o tempo que durou o cerco, dirigiu os seus homens, lutou a seu lado nos momentos de maior perigo, encorajou os vacilantes e desesperados, assistiu os feridos. Desmultiplicou-se, sem um momento de desânimo, sem uma vacilação.

Porém, intramuros, esgotava-se tudo, lentamente: os recursos militares, a comida, os próprios homens e a coragem também. O desespero descia sobre espíritos e corpos massacrados por dias e dias de expectativa num lance decisivo. E foi num desses momentos de desespero que, lúcida, Deu-la-Deu mandou recolher a pouca farinha que ainda existia na vila e com ela fazer os últimos pães.

Após a cozedura, Deu-la-Deu subiu à muralha com os pães nas mãos. Chegou-se a uma ameia e atirou-os aos sitiantes ante o espanto dos seus conterrâneos, sem forças para mais do que pasmo, gritando bem alto:

A vós, que não podendo conquistar-nos pela força das armas, nos haveis querido render pela fome, nós, mais humanos e porque, graças a Deus, nos achamos bem providos, vendo que não estais fartos, vos enviamos esse socorro e vos daremos mais, se pedirdes!

Na verdade, também o inimigo tinha fome, muita fome. Por isso, face àquele esbanjamento de pão, acreditaram na fartura dos sitiados e levantaram o cerco, partindo para terras de Espanha. Desta forma, com audácia e coragem, Deu-la-Deu salvou a praça e ficou, para sempre, ligada à história de Monção.



in “Município de Monção”

Imagem: uma imagem de mulher, segurando um pão em cada mão do alto de uma torre, figura no brasão de Monção com a legenda: Deus - a deu - Deus o há dado.



domingo, 26 de março de 2017

ELEGIA



ELEGIA


Pequeno poema de origem grega (século VII a.C.), de natureza melancólica e triste, e distinto da poesia lírica pelo seu ritmo próprio, quiçá o mais antigo depois da Epopeia. Horácio e Dídimo aceitaram a Elegia como tendo sido no seu começo um canto de lamentação. 

Embora no dizer de Costa Ramalho, as primeiras elegias conhecidas sejam as de Calino e Tirteu, guerreiras, e, por conseguinte, de atitude de espírito oposto.

Na literatura portuguesa, coube ao Renascimento ressuscitar a Elegia, esquecida durante toda a Idade Média, dando-lhe uma certa importância no panorama da poesia lírica. E os autores que mais cultivaram este género poético, foram Sá de Miranda, António Ferreira, Pêro de Andrade Caminha, Camões, Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz.

O último poeta que continuou em nossos dias o género da Elegia, foi Teixeira de Pascoaes, com o seu livro Elegias, em que o autor de Marânus canta a morte de uma criança.


in “Literatura Portuguesa”

***

ENCANTAMENTO

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar
A tua doce e angélica Figura,
Esquecido, embebido num luar,
Num enlevo perfeito e graça pura!

E à força de sorrir, de me encantar,
Diante de ti, mimosa Criatura,
Suavemente sentia-me apagar...
E eu era sombra apenas e ternura.

Que inocência! que aurora! que alegria!
Tua figura de Anjo radiava!
Sob os teus pés a terra florescia,

E até meu próprio espirito cantava!
Nessas horas divinas, quem diria
A sorte que já Deus te destinava!



TEIXEIRA DE PASCOAES(Amarante, Portugal,1877 – 1952), poeta, in “Elegias”




sábado, 25 de março de 2017

A NECESSIDADE DA POESIA





A NECESSIDADE DA POESIA


Jean Cassou afirma que a poesia é «a mais perfeita expressão do homem, a sua mais alta operação espiritual» e que o seu fim «é explicar o homem, acompanhá-lo, exaltá-lo no decurso da sua prodigiosa ascensão».

À grandeza das contradições desta «prodigiosa ascensão» não pode deixar de opor a poesia o seu rosto resplandecente ainda que torturado, rosto onde se reflecte e reconhece, nos seus abismais delírios, nas suas fugas, nas suas vitórias e derrotas, a vida dramática do homem que a todo o custo procura humanizar o mundo, mudar a vida.

A poesia confronta-se à luz crua e radical da tragédia, supera-a e, no mais aceso da luta, na tensão máxima das contradições, é ela que promete e afiança a síntese em que todos os valores do homem se possam encontrar sem sacrifícios mutiladores. Como no mito de Anteu, está ligada à terra dos homens para atingir os mais altos momentos do humano em que a vida é criação, potência, pura virtualidade, vibração do desejo decantado, catarses.

O seu fim é eminentemente social mesmo quando a sua mensagem é pessimista. É René Bertelé quem, num seu conhecido ensaio sobre Henri Michaux, repete a crença num «pessimismo tónico». E diz-nos da finalidade social da poesia: «dar força ao homem, permitir-lhe agir sobre o mundo». Desenvolvendo todas as leis da imaginação, reivindicando a sua difícil singularidade, exaltando-a para melhor e mais concretamente se integrar no universal - é assim que o poeta age. 

Já em alguns poetas a poesia ultrapassa o estádio de recusa de um mundo convencional (fase destrutiva mas necessária, cujo perigo consistia em levar a negação a extremos onde o humano se dissolvia) - e uma nova poesia surge lucidamente empenhada na epopeia do nosso tempo, revalorizando tudo o que une essencialmente os homens, vivendo da comunhão dos grandes ideais, toda voltada para o futuro e a esperança. 

Sob o signo da angústia ou da esperança – que tantas vezes se fundem no poema - o certo é que o poeta procura sempre afirmar a sua diferença, a originalidade do seu canto, numa relação válida com o universo, definida como experiência.

Nada tem a ver a poesia com a ficção homem comum. A sua condição de «a mais alta operação espiritual» obriga-a ao desenvolvimento máximo das faculdades humanas, na sua maioria amortecidas pela existência degradante. Não pode haver razões de ordem social que limitem a altitude ou a profundidade dum universo poético, que se oponham à liberdade de pesquisa e apropriação dum conteúdo cuja complexidade exige novas formas, o ir-até-ao-fim das possibilidades criadoras e expressivas - porque a poesia e a arte também obedecem a um princípio de extensão. Livre, é a palavra mais querida dos poetas, a mais vital para a poesia.

Atentos à multiplicidade do real e à maravilhosa diversidade dos destinos poéticos, a nossa posição é a da total isenção a tudo quanto a poesia der voz e pela poesia se realizar. Nosso primeiro critério: o da autenticidade.

Renegando a gratuitidade como intenção (e não como resultado lúdico do momento criador), consideramos a superior necessidade da poesia tanto no plano da criação como no da demanda social. 

Lutando pela dignificação da nossa condição de poetas, não esqueceremos nunca que o sentido da verdadeira poesia é o da «prodigiosa ascensão do homem». O misterioso triunfo dos versos só se estabelece quando as forças da vida subjugam as da morte - quando a poesia é uma perpétua conquista.



in “Árvore: folhas de poesia” – 1951
Imagem: pintura de Roger de La Fresnaye (Le Mans, França, 1885 – Grasse, 1925)

sexta-feira, 24 de março de 2017

PEDRO HISPANO - Filósofo





PEDRO HISPANO
(Lisboa, Portugal 1215 – Viterbo, Itália, 1277)

Papa, médico, filósofo, professor e matemático


"Petrus Hispanus" é seguramente o nome mais importante associado à Filosofia durante a Idade Média em Portugal. Contudo, subsistem inúmeras questões quanto à identificação deste autor e à extensão do seu corpus escrito. 

Autor (ou autores) provavelmente activo em meados do século XIII, estão-lhe atribuídas obras de Lógica, de Filosofia da natureza, de Psicologia, de Zoologia, de Medicina, de Alquimia, de Mística, e também Sermões. 

Durante a Idade Média e início da Idade Moderna algumas dessas obras tiveram uma extraordinária influência e difusão. De facto a Petrus Hispanus são atribuídos: o primeiro comentário latino escrito sobre o De anima de Aristóteles, o mais extenso tratado escrito em latim sobre o De anima, o manual de lógica mais copiado e editado de sempre e que entre os séculos XIII e XVII esteve em uso em boa parte das universidades continentais, o mais popular receituário de medicina que foi usado até ao século XVI, um dos mais extensos comentários à Articella, um conjunto de obras centrais na formação médica universitária, e também um dos primeiros comentários latinos sobre a obra zoológica de Aristóteles. 

O filósofo e cientista a quem é atribuída toda esta extensa e influente obra é o português Pedro Julião que em 1276 foi eleito Papa João XXI, função que ocupou até à sua morte em 1277. Mas, quase tudo está por confirmar quanto a esta atribuição e à unidade ou pluralidade de autores encobertos por este nome Petrus Hispanus.



in “Petrus Hispanus”



quinta-feira, 23 de março de 2017

ANNA AKHMATOVA - O canto do último encontro





ANNA AKHMATOVA
(Odessa, Ucrânia, 1889 – Leninegrado, Rússia, 1966)

Poetisa, especialista em literatura e tradutora


Em 1941, com a II Guerra Mundial, encontrava-se em Leninegrado. Tendo sofrido os horrores do cerco da cidade, foi evacuada para Tachkent, onde continuou a escrever os seus poemas. Porém, em 1946, o seu nome estava na lista dos «suspeitos do regime». Apesar de todas estas obstinações, continuava a escrever, mas os seus livros só muito mais tarde tiveram ordem de circular.

Pertenceu ao movimento denominado de akmeísmo, corrente oposta ao simbolismo e ao futuro, em voga naquele tempo. O seu nome figura ao lado dos grandes nomes literários da sua pátria: Pasternak, Ivan Bunin e Alexandre Tvarclovski. A tiragem das suas obras atingiu a cifra de oito milhões de exemplares.

O seu filho foi preso em 1936. Dessa angústia nasceu o poema, em livro, Requiem.


in “Dicionário de Mulheres Célebres”


Palavras 
de 
Anna Akhmatova

“Era uma época em que só os mortos sorriam, felizes na sua paz.”



O CANTO DO ÚLTIMO ENCONTRO

Sentia-me sem forças, gelada,
mas os meus passos eram leves.
Na mão direita tinha a luva
da mão esquerda, ao partir.

Eram realmente tantos degraus?
Eu sabia que eram só três!
O outono abraçava os plátanos
e murmurava: “Morre comigo!"

É o meu destino
que me enganasse e me traísse.
Eu respondi: "Oh, meu amor!
Eu também...Contigo morrerei..."

Este é o canto do último encontro.
Olhei para a casa escura,
Só no meu quarto, amarelo e indiferente,
ardia o fogo das velas.



Tradução: Manuel de Seabra


quarta-feira, 22 de março de 2017

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA





MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

Lisboa - Portugal


Criado em 1884, habitando, há quase 130 anos, o Palácio Alvor e cumprindo mais de um século da actual designação, o Museu Nacional de Arte Antiga alberga a mais relevante colecção pública portuguesa, entre pintura, escultura, ourivesaria e artes decorativas, europeias, de África e do Oriente.

Composto por mais de 40 000 itens, o acervo do Museu compreende o maior número de obras classificadas pelo Estado como “tesouros nacionais”. Engloba também, nos diversos domínios, obras de referência do património artístico mundial.

Herança da História (com realce para as incorporações dos bens eclesiásticos e dos provenientes dos palácios reais), a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga foi sendo engrandecida por generosas doações e importantes compras, ilustrando, em patamar de objectiva excelência, o que de melhor se produziu ou acumulou em Portugal, nos domínios acima enunciados, entre a Idade Média e os alvores da Contemporaneidade.

Parceiro incontornável na actividade museológica internacional, ao Museu pertence, historicamente, a dignidade de museu nacional normal: o que define a norma, as boas práticas, em acordo, uma vez mais, com os padrões internacionais, seja em matéria de conservação e de museografia, seja no âmbito do seu serviço de educação, pioneiro no País.



Fonte: Museu Nacional de Arte Antiga
Imagem: fotografia de Hugo M. Carriço


terça-feira, 21 de março de 2017

ALUÍSIO DE AZEVEDO - Pobre amor





ALUÍSIO DE AZEVEDO
(Maranhão, Brasil, 1857 - Argentina, 1913)

Romancista, caricaturista, jornalista e poeta


Aos 17 anos, parte para o Rio de Janeiro e começa a estudar pintura na Academia Imperial de Belas Artes. Logo passa a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas. 

Em 1880, lança o romance Uma Lágrima de Mulher, em estilo romântico. Fortemente influenciado pelas leituras de Eça de Queiroz e de Émile Zola, que lhe apontam um novo caminho, publica em 1881 O Mulato, obra que inaugura o Naturalismo na literatura brasileira. Por tratar-se de um libelo contra a vida e os costumes maranhenses no período abolicionista, o romance provoca violenta reacção da sociedade provinciana e do clero.

Na carreira literária de Aluísio de Azevedo, podemos distinguir duas posições estéticas simultâneas: de um lado, os romances românticos, que o próprio autor chamava de "comerciais", destinados a alimentar os jornais e a agradar a um público acostumado aos sentimentalismos e às extravagâncias da moda; de outro, os romances "artísticos", em que o autor adere ao espírito naturalista, produzindo verdadeiras obras-primas. 

À linha folhetinesca pertencem Memórias de um Condenado, Girândola dos Amores, Filomena Borges, entre outros. 

À linha artística pertencem os romances maiores de Aluísio: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço, considerada sua obra-prima, onde narra, em linguagem vigorosa, a vida miserável dos moradores de duas habitações colectivas.

Há nas principais obras do autor uma preocupação constante com a denúncia de situações sociais desumanas e injustas, que o tornam, acima de tudo, um romancista social.


Fonte: L&M (excertos)

***

   Palavras 
de 
Aluísio de Azevedo

“Triste viagem é a da vida, que termina sempre por um naufrágio; ou da qual ainda ninguém saiu sem levar a mastreação partida, o farol apagado, e as velas estraçalhadas pelos terríveis vendavais que se encontram no caminho."


POBRE AMOR


Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-te muito e muito, e, todavia,
Preferira morrer a ver-te um dia
Merecer o labéu de esposa impura!

Que te não enterneça esta loucura,
Que te não mova nunca esta agonia,
Que eu muito sofra porque és casta e pura,
Que, se o não foras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
Com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
Com teus beijos de amor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
Mas quanto sofro mais porque resistes!



segunda-feira, 20 de março de 2017

TEATRO LA FENICE - Veneza – Itália





TEATRO LA FENICE 

Veneza – Itália

Inaugurado a 16 de Maio de 1792


O Teatro La Fenice é uma das mais importantes instituições culturais da cidade. Um espaço cultural extremamente popular, não só pelos venezianos, mas em todo o mundo.

Foi vítima de três incêndios, o mais recente em 29 de Janeiro de 1996. Naquela noite, a maioria dos venezianos de todas as idades e origens acompanharam com tristeza a destruição criminosa da bela sala do teatro.

A opinião pública mundial imediatamente manifesta a vontade de reconstruir o teatro, permanecendo fiel ao estilo original. O trabalho foi confiado ao arquitecto Aldo Rossi e a reconstrução durou oito anos. Em 14 de Dezembro de 2003 foi inaugurado com um concerto dirigido por Riccardo Muti.

“La Traviata”, de Giuseppe Verdi, marca o início da nova vida do teatro veneziano.



in “Teatro La Fenice”







domingo, 19 de março de 2017

ÉLISABETH-LOUISE VIGÉE-LE BRUN - Pintora





ÉLISABETH-LOUISE VIGÉE-LE BRUN
(Paris, França,1755 - 1842)

Pintora


Com precoce talento, foi uma exímia retratista. Viveu na corte de França, pintou inúmeras telas da malograda família de Luís XVI. Conhecemos a rainha Maria Antonieta em mais de trinta retratos de sua autoria. 

Viveu entre dois séculos e numa época de profundas mudanças sociais. Esteve exilada doze anos e foi convidada a pintar em diversas cortes europeias. 

Pertenceu a diversas Academias de Belas Artes como as de Florença, Roma, Bolonha, e São Petersburgo. Viveu seis anos na Rússia. 

Está representada em praticamente todos os museus do mundo. Pintou mais de novecentas telas das quais setecentos retratos. Afável e generosa foi também uma pessoa muito estimada. Deixou diversos auto-retratos.



in “O Leme”
Imagem: auto-retrato 


MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...