Poema de ANTÓNIO RAMOS ROSA dedicado a SEBASTIÃO DA
GAMA
Sem
ternura
sem
pureza
não
grito a tua morte apenas violenta
a
tua morte apenas violenta ecoa em mim
e já
não existo senão escuro e tremo
um
pobre corpo atemorizado um coração de vazio
e
a vergonha de não ter lágrimas e a ignorância
Estou mais raso do que tu, poeta, a uma mesa de café
mais
morto mais falso mais nojento do que tu
e
disfarço o silêncio e naturalmente continuo na vida
e
rio e fujo e não consigo enterrar-te
não
consigo chorar-te
porque
o horror violento me desenha o corpo
Tiraste-me a vida e quase te odeio poeta
a
minha morte teria sido muito mais insignificante
a
minha morte teria sido mais justa
É esta ideia que te não perdoo, esta ideia horrorosa que bebo
esta
ideia de que não mereço a tua morte
porque
não mereci a tua vida
O que eu odeio é não te ter amado
o
que eu odeio é a minha pobre vida e a minha culpa
o
que eu odeio é ter ficado
Deixaste-me a responsabilidade tremenda de sobreviver-te
e por isso te amo e por isso descansa, poeta!
Fevereiro de 1952
ANTÓNIO RAMOS ROSA,
poeta e desenhador (Faro, Portugal, 1924 – Lisboa, 2013)
SEBASTIÃO DA GAMA,
poeta e professor (Vila Nogueira de Azeitão, Portugal, 1924 – Lisboa, 1952)
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