FRANCIS PONGE
(Montpellier, França, 1899 — Paris, 1988)
Poeta
A publicação de Le parti pris des choses (1942) fez do poeta um dos autores centrais na pesquisa de uma nova linguagem poética em nossa modernidade ainda corrente.
Francis Ponge é, por excelência, o poeta das coisas que exigem definições, das coisas partidas, das coisas naturais, das coisas inanimadas e animadas. Ele descreve o universo, os meteoros, a chuva, o fogo. Encanta-se com os moluscos, ostras, caracóis. Busca a todo momento dar voz às coisas silenciosas.
Traz à luz o mundo mágico da natureza. No Proemas, Ponge diz que “o homem julga a natureza absurda, ou misteriosa, ou madrasta. Bem. Mas a natureza não existe a não ser pelo homem”. Ele projecta, idealiza o homem harmonizado com os quatro elementos: a terra, o fogo, a água e o ar.
O poeta das definições e dos provérbios, da linguagem em êxtase, da poética do tatear, propõe uma reflexão da escritura e da palavra.
in "Prosa & Verso” - Pedro Maciel
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Palavras
de
Francis Ponge
“O homem está para vir. O homem é o futuro do homem.”
A BORBOLETA
Quando o açúcar elaborado nos talos surge no fundo das flores, como em xícaras mal lavadas - um grande esforço se produz no solo de onde, súbito, as borboletas alçam voo.
Porém, como cada lagarta teve a cabeça ofuscada e enegrecida, e o torso adelgaçado pela verdadeira explosão de onde as asas simétricas flamejaram,
Desde então, a borboleta errática só pousa ao acaso do percurso, ou quase isso.
Fósforo voejante, sua chama não é contagiosa. E, além do mais, ela chega muito tarde e pode apenas constatar as flores desabrochadas. Não importa: comportando-se como acendedora de lâmpadas, verifica a provisão de óleo de cada uma. Pousa no cimo das flores o farrapo atrofiado que carrega, e vinga assim sua longa humilhação amorfa de lagarta ao pé dos caules.
Minúsculo veleiro dos ares maltratado pelo vento como pétala superfetatória, ela vagabundeia pelo jardim.
Tradução: Adalberto Müller e Carlos Loria.
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