MANOEL DE BARROS
(Cuiabá,
Brasil, 1916 - Campo Grande, 2014)
Poeta
Até os 17 anos viveu entre
a casa da família e um internato, onde iniciou os estudos. Sua vida académica
se passou na cidade do Rio de Janeiro, onde ficou até se formar bacharel em
Direito, em 1941. Viveu também em Nova Iorque, Paris, Itália e Portugal.
Pertencente à geração de
45, onde despontaram os grandes poetas brasileiros da metade do século XX,
Manoel constrói uma linguagem inovadora, que chega ao limite da
agramaticalidade, cheia de neologismos e, ao mesmo tempo, remetendo a língua
portuguesa às suas raízes mais profundas.
A profunda correlação da
fala poética com as imagens visuais, vem de sua leitura do Padre António Vieira:
“eu aprendera em Vieira que as imagens pintadas com palavras eram para se ver
de ouvir”.
Manoel cria uma relação
única com a linguagem e o mundo. Uma linguagem que desobedece, a seu modo, e
que tem um mundo concreto que brinca a seu modo. Enfim, um poeta singular!
Algumas das suas obras: Gramática expositiva do chão, O livro das ignorãças, Livro sobre nada.
Palavras
de
Manoel de Barros
“O
que escrevo resulta de meus armazenamentos ancestrais e de meus envolvimentos
com a vida. Sou filho e neto de bugres, andarejos e portugueses melancólicos.
Minha infância levei com árvores e bichos do chão. Penso que a leitura e a
frequentação das artes desabrocha a imaginação para um mundo mais puro. Acho
que uma inocência infantil nas palavras é salutar diante do mundo tão
tecnocrata e impuro. Acho mais pura a palavra do poeta que é sempre inocente e
pobre”.
in “Fundação Manoel de Barros” (excertos e adaptação)
***
O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA
Tenho
um livro sobre águas e meninos.
Gostei
mais de um menino
que carregava água na peneira.
A
mãe disse que carregar água na peneira
era
o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A
mãe disse que era o mesmo
que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O
menino era ligado em despropósitos.
Quis
montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A
mãe reparou que o menino
gostava
mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com
o tempo aquele menino
que
era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com
o tempo descobriu que
escrever
seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No
escrever o menino viu
que
era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O
menino aprendeu a usar as palavras.
Viu
que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi
capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O
menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A
mãe reparava o menino com ternura.
A
mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você
vai encher os vazios
com
as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Magnífico! ..obrigado pela partilha
ResponderEliminarMagnífico! ..obrigado pela partilha
ResponderEliminarObrigado pela mensagem. Cumprimentos.
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