MIGUEL TORGA
(São Martinho de Anta, Portugal, 1907 - Coimbra, 1995)
Poeta,
escritor
***
A
Brandura dos Nossos Costumes
A brandura dos nossos
costumes... A delicadeza da nossa alma... O sentimentalismo do homem
português... É, é! Viu-se no passado, e vê-se no presente. O que nós somos é
hipócritas!
Amamos a violência disfarçada, a tirania encoberta, o arrocho
secreto. O medo do escândalo — que até no plano criador nunca nos permitiu
grandes atrevimentos — é que tem sido o freio da nossa crueldade.
Haja qualquer
alvaiade para encobrir a sevícia, e Deus tenha piedade da vítima. Vilões sempre
que nos põem a vara na mão, só não vamos às do cabo por cobardia.
E é na
denúncia irresponsável, na perfídia impune, na aleivosia anónima que cevamos a
maldade. Realmente, nunca matamos o toiro. Cobrimo-lo de farpas, cristãmente.
in "Diário"
in "Diário"
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