STEPHEN SPENDER
(Reino Unido,
1909- 1995)
Poeta, romancista e ensaísta
***
Sobre
a Arte e a Vida
O artista criador sabe
muito bem que a arte não constitui a vida inteira, sem o que se bastaria a si
próprio, se isolaria do mundo dos vulgares mortais, e veríamos os artistas,
felizes e irreais, criar uma arte verdadeiramente pura.
Certas pessoas que não são artistas, ou que são maus artistas, pensam de facto que a arte é um mundo isolado do mundo, e no qual a experiência estética é tudo. Esses são os virtuosos da arte e da crítica, espíritos inteiramente revestidos de matéria estética, dispensados da necessidade de viver a sua vida. (...)
O triunfo da arte não consiste apenas em triunfar
das dificuldades técnicas, mas em resolver os conflitos da vida para fazer
deles uma forma mais duradoura da aceitação e da contemplação. Considerar as
obras-primas da arte, esses grandes actos de aceitação, como se fossem actos de
recusa e de evasão, é apenas uma forma de perder contacto, de deixar a máquina
em movimento sem as rodas girarem. (...)
A vida tal como a experimentamos na obra de arte, só é intensa e por vezes dolorosa, porque atinge, na realidade, a vida de uma profunda e terrível experiência. Sem essa experiência, a arte exprimiria apenas uma tendência para uma perfeição vazia. Mas a arte verdadeira assimila o verdadeiro conflito da vida; a matéria-prima de sentimentos e de sensações que parecem insusceptíveis de terem expressão, e na arte quebrada, fundida e transformada de tal forma que deixamos de a reconhecer. A obra de arte não diz: «Eu sou a vida. Ofereço-vos a possibilidade de vos transformardes em mim»; pelo contrário, o que ela nos diz é: «Eis a imagem da vida. A vida é ainda mais real, ainda mais inevitável do que podeis supor. Mas dou-vos um exemplo de aceitação e de compreensão. E agora, vivei».
in “Diário de Setembro”.
Imagem: autor da fotografia:
Ulf Andersen
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