ARMANDO DA SILVA CARVALHO
(Óbidos, Portugal, 1938 – Caldas da
Rainha, 2017)
Poeta, escritor, tradutor
***
Varanda de Pilatos
Não
há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os
bocejos da lua, o clã dos astros.
Os
buracos negros.
Ó
mãe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há
pouco em todo o seu esplendor?
Mortos
como tu, a natureza recebe-os.
A
Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa
rotina mecânica.
Quantas
noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta
luz me cabe ainda nas pupilas?
Os
anos não me matam, não me ferem os meses,
As
horas não me guilhotinam.
As
células vão ardendo nos seus mapas
De
nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A
chegar ao seu destino orgânico.
Devagar,
devagar, a cabeça amolece.
Devagar
no colo do sono.
Ó
mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma
exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber
acumulado.
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