EUGÉNIO DE CASTRO
(Coimbra, Portugal, 1869 -
1944)
Poeta
***
Com a publicação de Oaristos, 1890, e Horas,
1891, introduziu o simbolismo em Portugal.
O seu temperamento sensorial levou-o depois a um
neoclassicismo dotado e um excepcional sentido de beleza plástica.
in “Livro dos Portugueses”
(excerto)
***
EM QUE EMPREGO O MEU TEMPO?
Em que emprego o meu tempo? Vou e
venho,
Sem dar conta de mim nem dos
pastores,
Que deixam de cantar os seus
amores,
Quando passo e lhes mostro a dor
que tenho.
É de tristezas o torrão que
amanho,
Amasso o negro pão com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.
Meu coração à doce paz resiste,
E, embora fiqueis crendo que
motejo,
Alegre vivo por viver tão triste!
Amor se mostra nesta dor que
abrigo:
Quero triste viver, pois vos não
vejo,
Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.
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