domingo, 16 de agosto de 2015

MARINA TSVETAEVA - Poema do fim

 
 
 
 
 
 
 
Marina Tsvetaeva (Rússia, 1894 – 1941).

Poetisa e tradutora.
O seu estilo é caracterizado pela alternância duma sensibilidade romântica com o realismo inspirado na vida quotidiana.

 

     
        Poema do fim

 
Como a pedra afia a faca,

Como ele desliza a serragem ao varrer,

Assim, a pele aveludada

De súbito, entre os dedos. úmida.

 
Oh dupla coragem, sequidão -

Dos homens, onde está você,

Se em minhas mãos há lágrimas

E não chuva?

 
A água é da fortuna

O que mais poderia querer?

Se teus olhos são diamantes

Que se vertem em minhas palmas,

 
Já não perco

Nada. Fim do fim.

Carícias, abraços

- Eu acariciava tua face.

 
Assim somos, orgulhosos

E polacas - Marina -,

Quando chove em minhas mãos

Olhos de águia:

 
Você chora? Meu amor,

Meu tudo: me perdoe.

Pedras de sal

Caem em minhas mãos.

 
Planto de homem, veia,

Na cabeça recostada.

Gritos. Outra te devolverá

A vergonha que te fiz deixar.

 
Somos dois peixes

Dos meus - meu - seu - meu mar

Duas conchas mortas

Lábio contra lábio.

 
Todas as lágrimas.

sabor

Um oráculo

- O que acontecerá

quando

Despertares?

 

Marina Tsvetaeva

Imagem: pintura de Titian (Itália, entre 1488 e 1490 – 1576).

 

 

1 comentário:

  1. Tão lindo e perfeito quanto um maxilar que não serviu de molde ao artista que tentou esculpir sua face que era poesia.Nenhuma cicatriz chamada bela atriz.

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