Marguerite Yourcenar (Bruxelas, Bélgica,
1903 – Maine, EUA, 1987).
A obra Memórias de Adriano, publicada em 1951,
tornou-a conhecida internacionalmente.
Foi a primeira mulher
eleita à Academia Francesa (cadeira nº3) em 1980.
Palavras de Marguerite
Yourcenar:
“O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em
que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios.”
Só se possuem eternamente os Amigos de quem nos separamos
O amor de
alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos
espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles
que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam:
aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e
creio amar.
Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo
a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não
prendê-lo.
Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas: vale mais que os
que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los. Se ficasses, talvez a tua
presença, ao sobrepor-se-lhe, enfraquecesse a imagem que me importa conservar
dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo, assim
tu também não és mais para mim do que o invólucro de um outro que extraí de ti
e que te vai sobreviver.
Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem
nos separamos.
Marguerite Yourcenar, in "Sistina"
Imagem: pintura de John Randall Bratby(Inglaterra,
1928 -1992)
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