Júlia Florista
A boémia lisboeta do início do século XX contou com uma fadista cujo nome tem de se inscrever entre os mais famosos do fado antigo. Trata-se de Júlia de Oliveira, vulgarmente conhecida por Júlia Florista, uma rapariga de espírito independente e galhofeiro, que desde criança se dedicou a vender flores, e foi, além disso, grande aficionada das corridas de toiros e frequentadora assídua da Praça do Campo Pequeno.
Desarmando os mais atrevidos galanteadores com ditos mordazes, a Júlia Florista nunca deixou de exercer a sua profissão e, mesmo perdendo as noites a cantar pelas tascas, restaurantes e salões da aristocracia, de manhã cedo lá estava no mercado a abastecer o seu cabaz de flores que vendia pelas ruas e que nas tardes de toiradas, entusiasmada com as sortes, distribuía generosamente brindando os cavaleiros com rosas e cravos.
A vida boémia foi-lhe porém fatal. Um ataque cardíaco em plena rua levou-a ao Hospital de S. José, onde nascera, e faleceu em 10 -6-1925.
Um fado canção, com letra de Leonel Vilar e música de Joaquim Pimentel, celebra-a assim:
Júlia florista
A Júlia florista
Boêmia e fadista
- Diz a tradição -
Foi nesta Lisboa
Figura de proa
Da nossa canção.
- Diz a tradição -
Foi nesta Lisboa
Figura de proa
Da nossa canção.
Figura bizarra
Que ao som da guitarra
O fado viveu
Vendia as flores,
Mas os seus amores
Jamais os vendeu.
Que ao som da guitarra
O fado viveu
Vendia as flores,
Mas os seus amores
Jamais os vendeu.
Ó Julia florista,
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória;
Ó Júlia florista,
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas,
Boêmias, fadistas,
Da nossa Lisboa.
Chinela no pé,
Um ar de ralé,
No jeito de andar,
Se a Júlia passava
Lisboa parava
Para a ouvir cantar.
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória;
Ó Júlia florista,
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas,
Boêmias, fadistas,
Da nossa Lisboa.
Chinela no pé,
Um ar de ralé,
No jeito de andar,
Se a Júlia passava
Lisboa parava
Para a ouvir cantar.
No ar um pregão,
Na boca a canção
Falando de amores,
Encostado ao peito
A graça e o jeito
Do cesto das flores.
Na boca a canção
Falando de amores,
Encostado ao peito
A graça e o jeito
Do cesto das flores.
Fonte: Lisboa, o Fado e os Fadistas
Imagem: pintura de Jorge Bandeira (Lisboa, Portugal,
1953)
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