A ODE FÚNEBRE
Numa aldeia habitava um
velho preceptor que ensinava as crianças há muitos anos, e embora ele se
gabasse de ser muito culto, não sabia grande coisa. Ensinava pouco mais do que
o abecedário e conseguira memorizar, com grande dificuldade, alguns fragmentos
de livros antigos.
Certo dia, morreu a mãe de
um camponês. O homem, muito comovido, recorreu ao professor para lhe rogar que
escrevesse uma ode fúnebre para que a pudesse declamar no dia do funeral. O
preceptor disse-lhe que lha entregaria no dia seguinte. Era a primeira vez que
lhe faziam tal encomenda. Desempoeirou um antigo livro que tinha guardado no
fundo de um baú.
O livro apenas incluía uma ode fúnebre dedicada a um pai de
família. Copiou-a palavra por palavra e, no dia seguinte, entregou-a ao homem
que perdera a mãe. Pouco depois, o inculto camponês regressou apressado e,
alarmado, disse ao professor:
- Desculpe o incómodo,
professor, mas é que mostrei esta ode a um amigo que sabe ler e assegurou-me
que está mal escrita.
- Estás a dizer que eu a
escrevi mal? – encolerizou-se o professor. Estás muito enganado, ignorante!
Garanto-te que não a escrevi mal porque a copiei letra por letra de um grande
poeta, sem mudar uma vírgula. Vou dar-te
o original para que o mostres ao teu amigo sabichão. Não cometi o mínimo erro.
O problema é que a tua mãe morreu por engano… o teu pai é que devia ter
morrido!
in “Os Melhores Contos
Espirituais do Oriente”- Ramiro Calle.
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