sábado, 2 de dezembro de 2017

A ODE FÚNEBRE





A ODE FÚNEBRE

Numa aldeia habitava um velho preceptor que ensinava as crianças há muitos anos, e embora ele se gabasse de ser muito culto, não sabia grande coisa. Ensinava pouco mais do que o abecedário e conseguira memorizar, com grande dificuldade, alguns fragmentos de livros antigos.

Certo dia, morreu a mãe de um camponês. O homem, muito comovido, recorreu ao professor para lhe rogar que escrevesse uma ode fúnebre para que a pudesse declamar no dia do funeral. O preceptor disse-lhe que lha entregaria no dia seguinte. Era a primeira vez que lhe faziam tal encomenda. Desempoeirou um antigo livro que tinha guardado no fundo de um baú. 

O livro apenas incluía uma ode fúnebre dedicada a um pai de família. Copiou-a palavra por palavra e, no dia seguinte, entregou-a ao homem que perdera a mãe. Pouco depois, o inculto camponês regressou apressado e, alarmado, disse ao professor:

- Desculpe o incómodo, professor, mas é que mostrei esta ode a um amigo que sabe ler e assegurou-me que está mal escrita.

- Estás a dizer que eu a escrevi mal? – encolerizou-se o professor. Estás muito enganado, ignorante! Garanto-te que não a escrevi mal porque a copiei letra por letra de um grande poeta, sem mudar uma vírgula.  Vou dar-te o original para que o mostres ao teu amigo sabichão. Não cometi o mínimo erro. O problema é que a tua mãe morreu por engano… o teu pai é que devia ter morrido!


in “Os Melhores Contos Espirituais do Oriente”- Ramiro Calle.


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