PABLO NERUDA
(Chile, 1904 – 1973)
Poeta
O PAI
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha
vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os
olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida
se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão
do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de
seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem
teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu
menino...
E na noite imensa
com as feridas de
ambos seguirei.
Tradução:Rui Lage
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