MARCEL THlRY
(Bélgica,1897
– 1977)
Poeta
Tentou trazer para a
poesia todo o mundo moderno da velocidade, das conquistas da física, e até do
banco e da bolsa, dando-lhes uma realidade por assim dizer metafísica,
extremamente original.
O poema que segue faz
parte dum volume publicado em 1950, Ages,
que contém alguns poemas admiráveis (Prose
dans Paris sombré), entre outros. Mostra-nos que o poeta dos algarismos, do
automóvel e do átomo não perdeu o sentido cósmico da natureza.
CICLO
A
neve, irmã tardia dos trigos mortos,
Desce
do céu, de encontro às antigas searas.
Cresce
nos campos do céu sem papoilas nem joio
E vai de encontro às gabelas recolhidas.
Vens
tarde, irmã inversa; já morremos.
Todo
o verão erguemos as nossas túmidas espigas,
Ofertando-te
o nosso oiro em grandes desejos sonoros;
Depois, foi o lúgubre dobrar das foices que se afiam.
E
tu, surda ao nosso encapelar, e cega,
Encantada
no mais alto das alturas etéreas,
Adormecida
noiva que acordou viúva,
Lanças agora os teus gélidos grãos à terra.
Tarde
de mais; estende-te na eira onde vens atrasada
Para
juntares aos nossos caules os teus,
E
cobre de tristeza o grão futuro
Que tenderá todo o verão para outras surdas neves.
Tradução e Nota de ANDRÉE CRABBÉ ROCHA
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