terça-feira, 19 de dezembro de 2017

MARCEL THlRY - Ciclo




MARCEL THlRY
(Bélgica,1897 – 1977)

Poeta

Tentou trazer para a poesia todo o mundo moderno da velocidade, das conquistas da física, e até do banco e da bolsa, dando-lhes uma realidade por assim dizer metafísica, extremamente original.
O poema que segue faz parte dum volume publicado em 1950, Ages, que contém alguns poemas admiráveis (Prose dans Paris sombré), entre outros. Mostra-nos que o poeta dos algarismos, do automóvel e do átomo não perdeu o sentido cósmico da natureza.


CICLO

A neve, irmã tardia dos trigos mortos,
Desce do céu, de encontro às antigas searas.
Cresce nos campos do céu sem papoilas nem joio
E vai de encontro às gabelas recolhidas.

Vens tarde, irmã inversa; já morremos.
Todo o verão erguemos as nossas túmidas espigas,
Ofertando-te o nosso oiro em grandes desejos sonoros;
Depois, foi o lúgubre dobrar das foices que se afiam.

E tu, surda ao nosso encapelar, e cega,
Encantada no mais alto das alturas etéreas,
Adormecida noiva que acordou viúva,
Lanças agora os teus gélidos grãos à terra.

Tarde de mais; estende-te na eira onde vens atrasada
Para juntares aos nossos caules os teus,
E cobre de tristeza o grão futuro
Que tenderá todo o verão para outras surdas neves.



Tradução e Nota de ANDRÉE CRABBÉ ROCHA



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