quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

NATÉRCIA FREIRE - Canção do verdadeiro abandono


      NATÉRCIA FREIRE
(Benavente, Portugal, 1920 – Lisboa, 2004)

Poetisa  e professora

        
CANÇÃO DO VERDADEIRO ABANDONO

Podem todos rir de mim,
podem correr-me à pedrada,
podem espreitar-me à janela
e ter a porta fechada.


Com palavras de ilusão
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
não tem vislumbres de além.


Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastos.



in “Obra Poética”

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