sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

NATÁLIA CORREIA - Balada para um Homem na Multidão




NATÁLIA CORREIA  
 (São Miguel, Açores, Portugal, 1923 - Lisboa, 1993)

Escritora e poetisa


BALADA PARA UM HOMEM NA MULTIDÃO

Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.

 Muitos mortos foram necessários
 para formar seus dentes um cabelo
 vai movido por pés involuntários
 e endoidece ser eu a percebê-lo.

 Sentam-no à mesa de um café
 num andaime ou sob um pinheiro
 tanto faz desde que se esqueça
 que é homem à espera que cresça
 a árvore que dá dinheiro.

 Alimentam-no do ar proibido
 de um sonho que não é dele
 não tem mais que esse frasco de vidro
 para fechar a estrela do norte.
 E só o seu corpo abolido
 lhe pertence na hora da morte.




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