NATÁLIA CORREIA
(São Miguel, Açores, Portugal,
1923 - Lisboa, 1993)
Escritora e poetisa
BALADA PARA UM HOMEM NA MULTIDÃO
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos
foram necessários
para formar
seus dentes um cabelo
vai movido por
pés involuntários
e endoidece ser
eu a percebê-lo.
Sentam-no à
mesa de um café
num andaime ou
sob um pinheiro
tanto faz desde
que se esqueça
que é homem à
espera que cresça
a árvore que dá
dinheiro.
Alimentam-no do
ar proibido
de um sonho que
não é dele
não tem mais
que esse frasco de vidro
para fechar a
estrela do norte.
E só o seu
corpo abolido
lhe pertence na
hora da morte.
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