(Porto, Portugal, de 1906 — Lisboa, 1994)
Filósofo,
poeta e ensaísta
***
Palavras
de Agostinho da Silva
“O grande defeito dos intelectuais portugueses
tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo. Vejam o povo.
Vejam como eles reflectem, como ele entende a vida, como eles gostariam que a
vida fosse para eles.”
***
QUERIA QUE OS PORTUGUESES
Queria
que os portugueses
tivessem
senso de humor
e
não vissem como génio
todo aquele que é doutor
sobretudo
se é o próprio
que
se afirma como tal
só
porque sabendo ler
o que lê entende mal
todos
os que são formados
deviam
ter que fazer
exame
de analfabeto
para provar que sem ler
teriam
sido capazes
de
constituir cultura
por
tudo que a vida ensina
e mais do que livro dura
e
tem certeza de sol
mesmo
que a noite se instale
visto
que ser-se o que se é
muito mais que saber vale
até
para aproveitar-se
das
dúvidas da razão
que
a si própria se devia
olhar pura opinião
que hoje é uma manhã outra
e talvez depois terceira
sendo que o mundo sucede
sempre de nova
maneira
alfabetizar
cuidado
não
me ponham tudo em culto
dos
que não citar francês
consideram puro insulto
se a nação analfabeta
derrubou filosofia
e no jeito aristotélico
o que certo
parecia
deixem-na ser o que seja
em todo o tempo futuro
talvez encontre sozinha
o mais além que
procuro.
in “Poemas”
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