DESCOBERTA
Sinto-me
livre, fresco, auroreal,
neste
rio de sombra e de silêncio.
Nele
descubro a força e as origens
inevitáveis
origens dos meus passos.
Nele
me encontro total e verdadeiro
com
meus claros olhos de animal
parentes
das estrelas e dos limos.
Nele
navega a minha noiva astral
toda
coroada de flores carnais
num
barco à imagem de minha alma.
Nele
a beleza brinca, e precipito-me
no
rastro da efémera flor
que
tremula nos dedos da verdade.
No
centro dele o coração liberta-se
e
transborda das margens do meu corpo.
No
centro dele um deus primaveril
com
um diadema de flores de água
guarda
a flauta, a irreal flauta,
onde
assobiarei o hino da manhã.
No centro dele espera-me
uma corça
- talvez a minha noiva,
incompreendida
e
aniquilada sobre o continente.
Nos
seus líquidos olhos a amizade
é
uma flor de orvalho que tremula.
No
centro dele rio, choro, canto
e
acaricio o dorso da ternura.
No
centro dele o teu retrato, Mãe!
múltiplo
e uno, é onde me liberto
e parto em pássaros para
os quatro mundos!
JOSÉ TERRA - poeta,
filólogo, historiador e professor catedrático (Prozelo, Arcos de Valdevez,
Portugal, 1928 – Paris, França, 2014)).
MATILDE ROSA ARAÚJO
– escritora e poetisa (Lisboa, Portugal, 1921-2010).
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