DAVID MOURÃO-FERREIRA
(Lisboa, Portugal,
1927 - 1996)
Escritor, poeta
***
Paraíso
Deixa
ficar comigo a madrugada,
para
que a luz do Sol me não constranja.
Numa
taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja
uma pianola, um disco, um posto,
onde
eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite,
em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois,
podes partir. Só te aconselho
que
acendas, para tudo ser perfeito,
à
cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes
partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
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