GIOVANNI PAPINI
(Florença, Itália, 1881 – 1956)
Escritor
***
O
TRIUNFO DOS IMBECIS
Não
nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os imbecis triunfem mais no
mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes têm por vezes de lutar contra
si próprios e, como se isso não bastasse, contra todos os medíocres que
detestam toda e qualquer forma de superioridade, o imbecil, onde quer que vá,
encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmãos e é, por espírito
de corpo instintivo, ajudado e protegido.
O estúpido só profere pensamentos
vulgares de forma comum, pelo que é imediatamente entendido e aprovado por
todos, ao passo que o génio tem o vício terrível de se contrapor às opiniões
dominantes e querer subverter, juntamente com o pensamento, a vida da maioria
dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e
realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas - os juízes
são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam
com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco
menos medíocre do que eles.
Este favor quase universal que acolhe os
frutos da imbecilidade instruída e temerária aumenta a sua já copiosa
felicidade. A obra do grande, ao invés, só pode ser entendida e admirada pelos
seus pares, que são, em todas as gerações, muito poucos, e apenas com o tempo
esses poucos conseguem impô-la à apreciação idiota e ovina da maioria.
A maior
vitória dos néscios consiste em obrigar, com certa frequência, os sábios a
actuar e falar deles, quer para levar uma vida mais calma, quer para a salvar
nos dias da epidemia aguda da loucura universal.
in"Citador"
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