VENCESLAU DE MORAIS
(Lisboa, Portugal, 1854 - Tokushima,
Japão, 1929)
Escritor
e militar da Marinha Portuguesa
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O
jardim da gruta de Camões
O
jardim da gruta de Camões é um dos sítios mais aprazíveis do nosso pequenino
domínio do Extremo Oriente. Ao prestígio da sua velha lenda reúne o encanto
natural da posição culminante, dos horizontes vastos, da vegetação vigorosa que
aqui encontra asilo, conchegada com as rochas, contra a fúria inclemente dos
tufões…
Centenas de aves descuidadas chilreiam a todas as horas saltando de
ramo em ramo, e grandes borboletas, com asas de veludo negro, redemoinham, em
loucas fantasias. Um enlevo! Pululam, surgindo das viçosas alfombras dos fetos
e das avencas, árvores variadas, em diferentes tons de verde.
Da altiva jaca
pendem os frutos grandes como pães; o jamboleiro, o caramboleiro, a acácia, a nespereira,
a palmeira namoram-se de perto; enlaçam-se pelos troncos, formando abóbadas maciças,
por onde não côa a luz do sol; destaca o tufo recortado da papaia; tremulam as longas
folhas da bananeira, as ramas dos bambus; e sobreerguem-se, como colossos vetustos,
os ficus – as árvores sagradas das bonzarias
– elevando no azul do espaço as suas amplas cabeleiras de folhagem, soltas ao vento
as raízes adventícias como barbas de velho, retorcidos, multiplicados os troncos,
semelhando ossadas de gigantes doutros tempos.
in “ Traços do Extremo Oriente”
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