JOSÉ MANUEL ANES
(Lisboa, Portugal,
1944)
Professor, antropólogo
***
FERNANDO PESSOA E OS MUNDOS ESOTÉRICOS
Fernando Pessoa percorreu muitos dos caminhos mais
significativos do Esoterismo - «o modo oculto de fazer», assente no «modo
oculto de saber» - e fê-lo sempre com interesse e entusiasmo, por vezes mesmo
apaixonadamente, «sentindo tudo de todas as maneiras», deixando aí os nervos e
a “pele” – tal como a “serpente” – em todos eles, com sofrimento e dúvida, com
comprometimento e empenhamento (em muitos deles): «temos de viver intimamente
(mesmo o que repudiamos)».
Comprometeu-se nesses caminhos, sendo tudo e sendo nada – mas sendo «o nada que é tudo», o «mito», que é «Verdade», mesmo que não seja «verdadeiro» - e foi livre em todos eles – «não se subordinando a nada, nem ao próprio ideal» - sem deixar de lhes pertencer de algum modo e de os defender. Quando defendeu, “cavaleirescamente” a Maçonaria, já no final da vida, foi não só pelo interesse iniciático da Ordem, mas também, devido à imperiosa luta pela Liberdade, que essa defesa implicava e que poderia assegurar.
Comprometeu-se nesses caminhos, sendo tudo e sendo nada – mas sendo «o nada que é tudo», o «mito», que é «Verdade», mesmo que não seja «verdadeiro» - e foi livre em todos eles – «não se subordinando a nada, nem ao próprio ideal» - sem deixar de lhes pertencer de algum modo e de os defender. Quando defendeu, “cavaleirescamente” a Maçonaria, já no final da vida, foi não só pelo interesse iniciático da Ordem, mas também, devido à imperiosa luta pela Liberdade, que essa defesa implicava e que poderia assegurar.
Passou por todos esses
caminhos, que não são nenhum caminho, em demanda do «mistério supremo» - num
«dissipar gradual das ilusões», embora passando depois por outras ilusões – no
supremo desígnio de «ser português», isto é, de «ser tudo». Num «grande acto de
magia intelectual, criou, em sintonia com esta demanda, uma notável obra
literária que reforçou esse Império da Cultura e do Espírito - «a Pátria da
língua portuguesa» - que será (ou é) o Quinto. Considerou «estarmos na Era do
Desejado», embora não esperasse pelo Regresso do Rei, mas pelo «Regresso
daquilo que o Rei simbolizava». Quis, e conseguiu, ser um «criador de mitos»,
um «estimulador de almas», um «despertador das energias» nacionais (não só no
seu tempo, mas mais tarde), ao ponto de ter gritado: «É a Hora!».
Passou pela Teosofia (…), pela
Gnose (…), pela Rosa-Cruz (…), pela Maçonaria (…), pelos Templários (…), pela Alquimia
(…), pela Magia (…), (…).
(…)
Mesmo que Pessoa – Poeta, Mago e Alquimista – não tivesse atingido a imortalidade
através da sua obra literária, essa “simples” vertigem iluminadora ter-lhe-ia assegurado
a Imortalidade espiritual, a realização da Grande Obra – tal como a «serpente» que,
ao deixar a pele em todos os caminhos, segue aquele caminho que não existe (o do
«desassossego»), aquele em que se encontra só consigo mesma e com os deuses que
foi criando, os quais são ela própria…
in
“FERNANDO PESSOA E OS MUNDOS ESOTÉRICOS” – 2004 - (excertos)
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