EUGÉNIO DE ANDRADE
(Fundão,
Póvoa de Atalaia, Portugal, 1923 — Porto, 2005) Poeta
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JÚLIO RESENDE
(Porto, Portugal
1917 — Valbom, Gondomar, 2011)
Pintor
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Nota
breve sobre o pintor JÚLIO RESENDE
Quando há pouco mais de
dois anos entrei na pequena galeria da Portugália do Porto e deparei com os
trabalhos que Júlio Resende expunha então, lembro-me nitidamente de ter pensado
que me encontrava diante de uma coisa rara na pintura portuguesa - um artista
que nos falava não só à nossa sensibilidade como também à nossa inteligência,
sem transigir com sentimentalidades, e, ao mesmo tempo, sem se desprender das
raízes do homem, da nossa carne, das nossas vísceras. E mais ainda - um artista
moderno, utilizando corajosamente, conscientemente, as correntes estéticas mais
subversivas; não por moda ou anti-tradicionalismo, mas por uma necessidade de
ser do seu tempo, por uma exigência funda de lutar contra a morte.
Não era difícil ver isso
naqueles treze quadros, que patenteavam uma aventura viril, feita de esforço e
de sonho, de insatisfação e de liberdade. De um lado tudo isto e do outro o
pintor Júlio Resende, sentado a um canto da sala, só, seguindo com os olhos
atentos um ou outro visitante, que mal entrava logo saía, alheio àquela luta
ardente - tentar meter o cosmos em dois metros quadrados de tela.
Júlio Resende não
desanimou com aquela indiferença e continuou enriquecendo a pintura portuguesa
moderna com algumas das suas obras mais europeias. Ele sabe que há anjos e
snobs. Que há gente para quem a Arte é um puro divertimento, uma distracção. E
sabe também que haverá sempre gente para quem o universo harmonioso de um
Picasso, de um Braque, de um Apollinaire; de um Neruda, de um Bartok, não é
senão caos e imperfeição.
A esses será sempre
necessário lembrar as palavras de Da Vinci: “O grande amor nasce do
conhecimento profundo da coisa que se ama: e, se tu não a conheces, não podes
amá-la ou só a amarás muito superficialmente”.
in “Sísifo” – poesia e
crítica 1951
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