PEDRO HOMEM
DE MELLO
(Porto, Portugal, 1904 — 1984)
Poeta
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Estudioso do folclore português, dedicou a este
campo numerosos programas na televisão e ensaios, como A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português, Danças Portuguesas e
Danças de Portugal.
Poeta, fez parte do movimento da revista Presença. Estreou-se com o volume Caravela do Mar, 1934 e com Segredo.
As raízes do seu lirismo bem português
mergulham na própria vivência íntima e na profunda sintonia com o povo, cuja alma
se lhe abria através do folclore, tendo por cenário a paisagem nortenha.
in “Portugal Século XXI”
***
Bodas Vermelhas
Fere-me,
vá! Vem a mim Povo!
Com
teu espírito grosseiro!
Teu
corpo de acre vinho novo
De
que me causa náusea o cheiro!
Eu
seja o último ceguinho!
Vem
a mim povo! E o amor que
minta!
Vem
com as mangas
plúmbeas de linho
E
com a faixa vermelha à cinta!...
Ai
dos prodígios de beleza!
-
Beleza surda que nos mata!...
Vem
a mim povo! de carne presa
Aos
ecos cínicos da prata!...
Com
tua dança que não é tua,
Com
o teu desejo inconsciente,
Sombra
do mar, do sol, da lua
A
lembrar bichos que lembram
gente!...
Com
teu olhar que não vê nada
A
não ser pau que se descubra,
Com
a tua boca espessa e rubra.
Com
tua mão curta, pesada,
Fere-me,
vá! Destrói a alvura
De
meu altar de sonhador!...
-
Que a noite, a minha noite escura
Em
sangue mude a sua cor!...
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