quarta-feira, 12 de setembro de 2018

SIBILLA ALERAMO – “Uma Mulher”



SIBILLA ALERAMO
(Alexandria, Itália, 1876 – Roma, 1960)
Escritora, poetisa

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No princípio do século XX, tornou-se conhecida em toda a Europa graças à publicação do romance semi-autobiográfico, Uma Mulher, chocante e controverso para a época. Trata-se da história de uma mulher de uma aldeia do sul de Itália que, seduzida por um operário de seu pai, é obrigada a casar e, não conseguindo suportar essa união opressiva e infeliz, acaba por abandonar o lar, ao preço da perda do filho.

in “Mulheres Século XX”

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“Porque é que a condição de mãe nos leva a adorar o sacrifício? De onde nos vem esta ideia desumana da imolação materna? De mãe para filha, há séculos que esta servidão se transmite. É uma cadeia monstruosa. Todas temos, a certa altura da nossa vida, a consciência de quanto fez para nosso bem aquela que nos deu a vida; e, juntamente com a consciência, o remorso de não termos compreendido como devíamos o holocausto dessa pessoa amada.

Então desviamos para os nossos filhos tudo aquilo que não demos às nossas mães, renegando-nos a nós próprias e oferecendo um novo exemplo de mortificação, de aniquilamento. E se um belo dia a cadeia fatal se quebrasse, e houvesse uma mãe que não suprimisse em si a mulher, e um filho que aprendesse através do exemplo da sua vida o que é a dignidade? 

Então, as pessoas começariam a compreender que o dever dos progenitores começa muito antes do nascimento dos filhos, e que a sua responsabilidade vem de trás precisamente quando é mais imperioso, mais sedutor viver só para si. Quando o casal humano tivesse a humilde certeza de possuir todos os elementos necessários à criação de um novo ser íntegro, forte, digno de viver, nesse momento, se alguém tivesse de ficar em dúvida, não seria o filho?”



in ”Uma Mulher” -1983



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