SIBILLA ALERAMO
(Alexandria, Itália, 1876 – Roma, 1960)
Escritora,
poetisa
***
No princípio do século XX,
tornou-se conhecida em toda a Europa graças à publicação do romance
semi-autobiográfico, Uma Mulher,
chocante e controverso para a época. Trata-se da história de uma mulher de uma
aldeia do sul de Itália que, seduzida por um operário de seu pai, é obrigada a
casar e, não conseguindo suportar essa união opressiva e infeliz, acaba por
abandonar o lar, ao preço da perda do filho.
in “Mulheres Século XX”
***
“Porque é que a condição
de mãe nos leva a adorar o sacrifício? De onde nos vem esta ideia desumana da
imolação materna? De mãe para filha, há séculos que esta servidão se transmite.
É uma cadeia monstruosa. Todas temos, a certa altura da nossa vida, a
consciência de quanto fez para nosso bem aquela que nos deu a vida; e,
juntamente com a consciência, o remorso de não termos compreendido como
devíamos o holocausto dessa pessoa amada.
Então desviamos para os
nossos filhos tudo aquilo que não demos às nossas mães, renegando-nos a nós
próprias e oferecendo um novo exemplo de mortificação, de aniquilamento. E se
um belo dia a cadeia fatal se quebrasse, e houvesse uma mãe que não suprimisse
em si a mulher, e um filho que aprendesse através do exemplo da sua vida o que
é a dignidade?
Então, as pessoas começariam a compreender que o dever dos
progenitores começa muito antes do nascimento dos filhos, e que a sua
responsabilidade vem de trás precisamente quando é mais imperioso, mais sedutor
viver só para si. Quando o casal humano tivesse a humilde certeza de possuir todos
os elementos necessários à criação de um novo ser íntegro, forte, digno de viver,
nesse momento, se alguém tivesse de ficar em dúvida, não seria o filho?”
in ”Uma Mulher” -1983
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