ANTÓNIO ALEIXO
(Vila Real de Santo António, Portugal, 1899 - Loulé, 1949)
Poeta
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O poeta António Aleixo, cauteleiro e guardador de rebanhos, cantor popular de feira em feira, pelas redondezas de Loulé, é um caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia.
É, sem dúvida, um poeta que extravasa em muito a restrição que o cataloga como poeta popular. É talvez um dos grandes poetas do século XX pela jactância, pela sua capacidade de improviso e pela sua visão do mundo que continua a ser o mesmo.
Neste sentido, está ao mesmo nível de dois outros grandes poetas que com uma cultura mais erudita, também se distinguem nesse aspecto: o Fernando Pessoa e o Vitorino Nemésio.
Neste sentido, está ao mesmo nível de dois outros grandes poetas que com uma cultura mais erudita, também se distinguem nesse aspecto: o Fernando Pessoa e o Vitorino Nemésio.
Efectivamente, graças a um intelecto poderoso, António Aleixo conseguiu trabalhar as palavras ultrapassando a sua formação académica bastante rudimentar e as múltiplas limitações da sua saúde vacilante.
in ”Fundação António Aleixo” (excerto)
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ALGUMAS QUADRAS
A vida é uma ribeira;
Caí nela, infelizmente…
Hoje vou, queira ou não queira,
Aos trambolhões na corrente.
Crês que ser pobre é não ter
Pão alvo ou carne na mesa?
Mas é pior não saber
Suportar essa pobreza!
O luxo valor não tem
Nos que nascem p’ra pequenos:
Os pobres sentem-se bem
Com mais pão luxo a menos!
A esmola não cura a chaga;
Mas quem a dá não percebe
Ou ela avilta, que ela esmaga
O infeliz que a recebe.
A ninguém faltava o pão,
Se este dever se cumprisse:
- Ganharmos em relação
Com o que se produzisse.
O homem sonha acordado;
Sonhando a vida percorre…
E desse sonho dourado
Só acorda, quando morre!
Quantas, quantas infelizes
Deixam de ser virtuosas…
E depois são seus juízes
Os que as fazem criminosas!...
Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.
Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias…
Chegasses onde pudesses;
Mas nunca devias rir
Nem fingir que não conheces
Quem te ajudou a subir!
Os que bons conselhos dão
Às vezes fazem-me rir,
- Por ver que eles próprios são
Incapazes de os seguir.
Mesmo que te julguem mouco
Esses que são teus iguais,
Ouve muito e fala pouco:
Nunca darás troco a mais!
Entra sempre com doçura
A mentira, pr’a agradar;
A verdade entra mais dura,
Porque não quer enganar.
Se te censuram, estás bem,
P’ra que a sorte te perdure;
Mal de ti quando ninguém
Te inveje nem te censure!
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