YIANNIS
RITSOS
(Grécia,
1909 - 1990)
Poeta, dramaturgo, tradutor
***
O seu livro Epitáfios
foi queimado publicamente pela ditadura de Ioannis Metaxas. Em 1948, com o
início de outra ditadura militar na Grécia, Yiannis Ritsos é preso, passando
pelos campos de Limnos e o terrível Makronisos, onde escreve seus Diários do Exílio.
Em 1967, é preso novamente, desta vez pelo
regime da Junta Militar de George Papadopoulos e Nikolaos Makarezos, e enviado
para o campo de Gyaros. É proibido de publicar até 1972.
Está entre os grandes poetas gregos modernos,
ao lado de Konstantinos Kavafis, Kostas Kariotakis, Giorgos Seferis e Odysseus
Elytis.
Recebeu o “Prémio Lenin da Paz”
in “Escritas” - Ricardo Domeneck
***
Coisas simples e incompreensíveis
Nada de novo —
repete ele. Os homens matam-se ou morrem,
sobretudo
sobretudo
envelhecem,
envelhecem, envelhecem — os dentes,
os cabelos, as mãos, os espelhos.
Aquele vidro do candeeiro, quebrado — foi consertado com um jornal.
E o pior de tudo: quando aprendes que algo vale a pena, já passou.
Então se faz uma grande serenidade. Chega o verão. As árvores
são altas e verdes — muito provocantes. As cigarras cantam.
À tardinha, as montanhas azulecem. Lá de cima descem
homens obscuros. Coxeiam ladeira abaixo (fingem que coxeiam).
Lançam cães mortos ao rio, e depois, muito tristes e como
que irritados
dobram os sacos de linho, coçam os testículos e olham a lua
na água. Somente essa coisa inexplicável:
fingirem-se de coxos, sem que ninguém esteja a vê-los.
os cabelos, as mãos, os espelhos.
Aquele vidro do candeeiro, quebrado — foi consertado com um jornal.
E o pior de tudo: quando aprendes que algo vale a pena, já passou.
Então se faz uma grande serenidade. Chega o verão. As árvores
são altas e verdes — muito provocantes. As cigarras cantam.
À tardinha, as montanhas azulecem. Lá de cima descem
homens obscuros. Coxeiam ladeira abaixo (fingem que coxeiam).
Lançam cães mortos ao rio, e depois, muito tristes e como
que irritados
dobram os sacos de linho, coçam os testículos e olham a lua
na água. Somente essa coisa inexplicável:
fingirem-se de coxos, sem que ninguém esteja a vê-los.
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