STANISLAW PONTE PRETA
(Rio de Janeiro, Brasil,
1923 - 1968)
Escritor, cronista, compositor
***
FOI NUM CLUBE AÍ
Isto mesmo, foi num clube da Guanabara, desses que cultivam a chamada
segregação social. De repente o Conselho Deliberativo foi obrigado a se reunir
em sessão especial por causa de um bode que deu num dos eventos sociais da
agremiação.
Alguns conselheiros já sabiam vagamente do que se tratava, mas a
maioria estava por fora, boiando no assunto. É que a grave ocorrência se dera
em circunstâncias mais ou menos veladas. Todavia, clube vocês sabem como é: um antro
de fofocas que eu vou te contar. Num instante começaram os boatos, os
blá-blá-blás regulamentares.
Afinal, reunidos os senhores conselheiros, foi explicado que, durante
uma reunião dançante, um sócio tinha bolacheado a namorada, num cantinho
discreto do salão. A coisa, no entanto, se esparramara pela sede. Ora, em clube
de gente metida a diferente, aquilo era insuportável.
Imaginem: um sócio exemplando a namorada numa dependência social.
Discutiu-se a matéria ad nauseam
– como dizem os latinistas enjoados – mas aí um dos conselheiros garantiu que a
coisa não fora bem assim. Um sócio tinha, realmente, baixado a manopla numa
mulher, mas não era namorada, era esposa. Ora, isto agravava o caso. Um homem
que não sabia respeitar a própria “patroa” (em clube usa-se muito chamar a
mulher de “patroa”, assim como no Lion´s eles
chamam de “domadora”), era indigno do quadro social.
Discutiu-se a matéria outra vez e aí outro conselheiro afirmou que
tinham visto e lhe contado que o sócio dera uma bolacha, de facto, mas fora
numa bicharoca, e não numa mulher. Gravíssimo, pois!
Discutiu-se a matéria e o Conselho Deliberativo já ia deliberar, quando
um dos membros viu-se na obrigação de contar tudo, garantindo aos seus
coleguinhas que era pior ainda. Não fora um só sócio, mas um director que
batera na bicharoca.
Espanto gera! Mas que vexame! Sim, era, pior porém: duas bicharocas é
que tinham se esbofeteado por causa de um director. A discussão - nesta altura
– já era velada, tudo falando baixinho. E aí o presidente do Egrégio Conselho
Deliberativo foi obrigado a suspender a sessão e aconselhar a todos que não
falassem mais nisso, pois acabava de ser informado ao ouvido, por um
conselheiro discreto, que não foi o caso de duas bicharocas brigando por causa
de um director, e sim dois directores brigando por causa de uma bicharoca.
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