quinta-feira, 13 de setembro de 2018

STANISLAW PONTE PRETA – Foi num clube aí



STANISLAW PONTE PRETA
(Rio de Janeiro, Brasil, 1923 - 1968)
Escritor, cronista, compositor

***

FOI NUM CLUBE AÍ

Isto mesmo, foi num clube da Guanabara, desses que cultivam a chamada segregação social. De repente o Conselho Deliberativo foi obrigado a se reunir em sessão especial por causa de um bode que deu num dos eventos sociais da agremiação.

Alguns conselheiros já sabiam vagamente do que se tratava, mas a maioria estava por fora, boiando no assunto. É que a grave ocorrência se dera em circunstâncias mais ou menos veladas. Todavia, clube vocês sabem como é: um antro de fofocas que eu vou te contar. Num instante começaram os boatos, os blá-blá-blás regulamentares.

Afinal, reunidos os senhores conselheiros, foi explicado que, durante uma reunião dançante, um sócio tinha bolacheado a namorada, num cantinho discreto do salão. A coisa, no entanto, se esparramara pela sede. Ora, em clube de gente metida a diferente, aquilo era insuportável.

Imaginem: um sócio exemplando a namorada numa dependência social.

Discutiu-se a matéria ad nauseam – como dizem os latinistas enjoados – mas aí um dos conselheiros garantiu que a coisa não fora bem assim. Um sócio tinha, realmente, baixado a manopla numa mulher, mas não era namorada, era esposa. Ora, isto agravava o caso. Um homem que não sabia respeitar a própria “patroa” (em clube usa-se muito chamar a mulher de “patroa”, assim como no Lion´s eles chamam de “domadora”), era indigno do quadro social.

Discutiu-se a matéria outra vez e aí outro conselheiro afirmou que tinham visto e lhe contado que o sócio dera uma bolacha, de facto, mas fora numa bicharoca, e não numa mulher. Gravíssimo, pois!

Discutiu-se a matéria e o Conselho Deliberativo já ia deliberar, quando um dos membros viu-se na obrigação de contar tudo, garantindo aos seus coleguinhas que era pior ainda. Não fora um só sócio, mas um director que batera na bicharoca.

Espanto gera! Mas que vexame! Sim, era, pior porém: duas bicharocas é que tinham se esbofeteado por causa de um director. A discussão - nesta altura – já era velada, tudo falando baixinho. E aí o presidente do Egrégio Conselho Deliberativo foi obrigado a suspender a sessão e aconselhar a todos que não falassem mais nisso, pois acabava de ser informado ao ouvido, por um conselheiro discreto, que não foi o caso de duas bicharocas brigando por causa de um director, e sim dois directores brigando por causa de uma bicharoca.





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