sábado, 1 de setembro de 2018

LUIS SEPÚLVEDA - CHILE, 30 de Janeiro de 2009



LUIS SEPÚLVEDA
(Ovalle, Chile, 1949)
Escritor

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Era ainda um estudante quando, nesse mesmo ano, o General Augusto Pinochet chegou ao poder. Aprisionado, foi julgado por um tribunal militar em Fevereiro de 1975, e acusado de traição à pátria e conspiração subversiva, entre outros crimes. Escapando à pena de morte, habitual em casos semelhantes, foi condenado a vinte e oito anos de cadeia.

Encarcerado em Temulo, estabelecimento prisional político, conviveu com alguns dos mais de trezentos professores universitários que Pinochet tornou cativos. Em 1977, graças à persistência da Amnistia Internacional, viu a sua pena ser comutada para oito anos de exílio na Suécia.
Em 2016, recebeu o Prémio Eduardo Lourenço.

in “Infopédia”
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CHILE, 30 de Janeiro de 2009

Não tenho a certeza de conduzir por uma estrada chilena, europeia ou norte-americana. A paisagem está salpicada de cartazes que falam da crise económica originada pelos donos do dinheiro: compre em tempo de crise, não seja idiota; salve-se da crise investindo em vales alimentares, fome sempre haverá no mundo. Crise? Jovens mulheres amáveis oferecem massagens tântricas garantidas. Reconheço que o tema me preocupa e começo também a pensar na crise. Em San Ambrosio de Linares, faço uma paragem num café à beira da estrada: a sussurrante voz de Carla Bruni canta algo sobre um certo Raphael e eu peço um bife com dois ovos estrelados. Pergunto ao empregado o que pensa da crise e ele responde–me que toda a sua confiança está posta em Obama. Quero saber porquê, e a sua resposta é, além de óbvia, desconcertante:

- Porque é negro, e os negros sempre viveram em crise.

No Chile, os postos de gasolina das auto-estradas são oásis Wi-Fi, e toda a gente que anda com um computador portátil procura um lugar com sombra e aí consulta o seu correio electrónico. Aproximo-me de uma jovem internauta e indago-a também sobre o que pensa da crise.

- Não nos afecta, somos um país rico, somos a cópia feliz do Éden – responde, cantarolando o verso do hino nacional que alude à nossa condição de cópia melhorada do Paraíso.
Desando imediatamente, para me livrar daquela optimista.



in”Histórias daqui e dali”




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