LUIS SEPÚLVEDA
(Ovalle, Chile, 1949)
Escritor
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Era ainda um estudante quando, nesse mesmo ano, o General Augusto
Pinochet chegou ao poder. Aprisionado, foi julgado por um tribunal militar em
Fevereiro de 1975, e acusado de traição à pátria e conspiração subversiva,
entre outros crimes. Escapando à pena de morte, habitual em casos semelhantes,
foi condenado a vinte e oito anos de cadeia.
Encarcerado em Temulo, estabelecimento prisional político, conviveu com
alguns dos mais de trezentos professores universitários que Pinochet tornou
cativos. Em 1977, graças à persistência da Amnistia Internacional, viu a sua
pena ser comutada para oito anos de exílio na Suécia.
Em 2016, recebeu o Prémio Eduardo Lourenço.
in “Infopédia”
***
CHILE, 30 de Janeiro de 2009
Não tenho a certeza de conduzir por uma estrada chilena, europeia ou
norte-americana. A paisagem está salpicada de cartazes que falam da crise
económica originada pelos donos do dinheiro: compre em tempo de crise, não seja
idiota; salve-se da crise investindo em vales alimentares, fome sempre haverá
no mundo. Crise? Jovens mulheres amáveis oferecem massagens tântricas
garantidas. Reconheço que o tema me preocupa e começo também a pensar na crise.
Em San Ambrosio de Linares, faço uma paragem num café à beira da estrada: a
sussurrante voz de Carla Bruni canta algo sobre um certo Raphael e eu peço um
bife com dois ovos estrelados. Pergunto ao empregado o que pensa da crise e ele
responde–me que toda a sua confiança está posta em Obama. Quero saber porquê, e
a sua resposta é, além de óbvia, desconcertante:
- Porque é negro, e os negros sempre viveram em crise.
No Chile, os postos de gasolina das auto-estradas são oásis Wi-Fi, e
toda a gente que anda com um computador portátil procura um lugar com sombra e
aí consulta o seu correio electrónico. Aproximo-me de uma jovem internauta e
indago-a também sobre o que pensa da crise.
- Não nos afecta, somos um país rico, somos a cópia feliz do Éden –
responde, cantarolando o verso do hino nacional que alude à nossa condição de
cópia melhorada do Paraíso.
Desando imediatamente, para me livrar daquela optimista.
in”Histórias daqui e
dali”
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