ADÉLIA PRADO
(Divinópolis, Brasil, 1935)
Poetisa, dramaturga, filósofa
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A escritora mostra como as palavras simples podem emocionar e criar novamente aquilo que o tempo já levou.
Em prosa ou verso, Adélia abre os olhos do leitor para o que há de sagrado nas coisas mais triviais. Sem prescindir delas, Adélia tornou-se uma das autoras nacionais mais requisitadas em eventos sobre literatura, no Brasil ou em países como Cuba, na Alemanha ou nos EUA, e sua obra tornou-se objecto de estudos em universidades como Princeton.
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CASAMENTO
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
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