CHARLES
BUKOWSKI
(Alemanha, 1920 – EUA,
1994)
Poeta, contista, romancista
***
O seu trabalho relata o desespero da classe
trabalhadora, dos menos afortunados. Os temas tratados são os mesmos em todo o
espectro da sua literatura: violência, desespero, pobreza, alcoolismo, loucura,
sexo, solidão e suicídio. O que o
prendia à escrita era a realização de que sem ela, a sua vida seria tão absurda
e tão sem significado, como as personagens e os temas que tratava.
in
“Cultura e Arte” (excerto)
***
ENTÃO QUERES SER UM ESCRITOR?
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar
do teu
coração, da tua cabeça, da tua
boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de
computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em
fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros
escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que
saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à
tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que
seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos
escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram
escritores,
não sejas chato nem aborrecido
e
pedante, não te consumas com
auto-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo
têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a
acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.
Tradução: Manuel A. Domingos
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