NELLY SACHS
(Berlim,
Alemanha, 1891 - Estocolmo, Suécia, 1970)
Escritora
***
Descoberto o horror dos
campos de concentração nazis, o filósofo Theodor W. Adorno perguntava-se: “É possível a poesia alemã depois de Auschwitz?
Exilada na Suécia, uma obscura escritora de filiação judaica e
língua alemã, Nelly Sachs, não se mostrou de acordo. Nunca passara por um campo
da morte, mas tinha sido testemunha, ao longo de sete anos, do sofrimento do
seu povo, arrastado para lugares de onde não havia regresso. Ela própria
escapou à tangente: já a ordem de deportação havia sido emitida em seu nome
quando os bons ofícios de Selma Lagerlöf, produziram os seus efeitos. Nelly,
com quase cinquenta anos, foi autorizada a voar para Estocolmo com a sua mãe.
Estas Moradas da Morte foram habitadas nas frias noites de Inverno de
1943-44, enquanto, à cabeceira da mãe doente, Nelly esperava a luz do dia para
poder passá-las ao papel. Viram a publicação em Berlim, em 1947, para provando
que Adorno não tinha razão e transformando Nelly Sachs na “grande poetisa do destino judaico”.
Recebeu o “Prémio da Paz da
Associação de Livreiros Alemães” e o “Prémio Nobel de Literatura”.
in “Mulheres Século XX” (excerto)
***
Oh as Chaminés
Sobre
as moradas da morte
engenhosamente
inventadas,
Quando o corpo de Israel
desfeito
em fumo partiu
Pelo ar –
Como limpa-chaminés uma
estrela
o recebeu
Que se fez negra
Ou era um raio de sol?
Oh as chaminés!
Vias da liberdade para o pó
de
Jeremias e de Job –
Quem vos inventou e com-
pôs
pedra sobre pedra
De fumo o caminho aos
fugitivos
?
Oh as moradas da morte,
De arranjo convidativo
Para o hospedeiro, outrora
hóspede
–
Ó dedos,
Pondo a soleira de entrada
Como uma
faca entre vida
e morte –
Ó vós chaminés,
Ó vós dedos,
E o corpo de Israel em
fumo pelo ar!
in “Nas Moradas da Morte” (excerto)
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