segunda-feira, 19 de novembro de 2018

RUTH ROSENGARTHEN – “Paula Rego e o Crime do Padre Amaro”



RUTH ROSENGARTHEN
(Telavive, Israel, 1954)
Artista plástica, escritora, crítica

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Ruth Rosengarthen há tempo que vem acompanhando, com grande respeito e exigência, o trabalho de Paula Rego. O livro Paula Rego e o Crime do Padre Amaro condensa a análise sobre a condição peculiar da artista, “ num mundo fechado da cozinha, do quarto das crianças ou do quarto de costura da infância (…) As “histórias” de Paula Rego subvertem sempre de uma forma deliciosa, a ordem patriarcal”.

A artista confessa: “Acho que tudo o que faço transporta em si a voz das histórias contadas que me foram contadas quando eu era criança”. Advertindo, porém:”Não apenas a das primeiras histórias contadas pela minha avó, mas também as histórias contadas pelo meu pai”. Segura, a crítica observa: “Ao homenagear o pai a artista ousa reexaminar a ordem patriarcal que ele representa”.

Em “O Crime do Padre Amaro”, retrata, “uma comunidade piedosa, beata, farisaica e hipócrita”, através de um amor ilícito entre um padre e uma jovem. “Quando olhamos para estas obras, espanta-nos (…) a forma como parecem captar o que a artista chama de “tom” das histórias portuguesas”.


in “Mulheres Século XX” -1999 (excertos)


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As actuais pinturas evocam uma memória de Portugal mais detalhada e mais profunda do que a existente em qualquer das suas obras anteriores: não estamos perante a atmosfera tonificante da praia da Ericeira retratada em A Dança ou Partida (ambas de 1988), mas perante um território cercado e abafado como Leiria, que Eça de Queirós invoca nas suas descrições. 

A artista transporta esse ambiente para um mundo provinciano iconograficamente rico e contraditório, de um catolicismo sensual. O que nos mostra é, acima de tudo, o interior mais profundo do próprio coração: as regiões mais íntimas e mais escuras que já alguma vez explorara.”


in “Paula Rego e o Crime do Padre Amaro” – 1999 (excerto)

                                        






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