RUTH ROSENGARTHEN
(Telavive, Israel,
1954)
Artista
plástica, escritora, crítica
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Ruth
Rosengarthen há tempo que vem acompanhando, com grande respeito e exigência, o
trabalho de Paula Rego. O livro Paula
Rego e o Crime do Padre Amaro condensa a análise sobre a condição peculiar
da artista, “ num mundo fechado da
cozinha, do quarto das crianças ou do quarto de costura da infância (…) As
“histórias” de Paula Rego subvertem sempre de uma forma deliciosa, a ordem
patriarcal”.
A
artista confessa: “Acho que tudo o que
faço transporta em si a voz das histórias contadas que me foram contadas quando
eu era criança”. Advertindo, porém:”Não
apenas a das primeiras histórias contadas pela minha avó, mas também as histórias
contadas pelo meu pai”. Segura, a crítica observa: “Ao homenagear o pai a artista ousa reexaminar a ordem patriarcal que
ele representa”.
Em
“O Crime do Padre Amaro”, retrata, “uma comunidade piedosa, beata, farisaica e
hipócrita”, através de um amor ilícito entre um padre e uma jovem. “Quando olhamos para estas obras, espanta-nos
(…) a forma como parecem captar o que a artista chama de “tom” das histórias
portuguesas”.
in “Mulheres Século XX” -1999 (excertos)
***
“As
actuais pinturas evocam uma memória de Portugal mais detalhada e mais profunda do
que a existente em qualquer das suas obras anteriores: não estamos perante a atmosfera
tonificante da praia da Ericeira retratada em A Dança ou Partida (ambas de 1988), mas perante um território cercado
e abafado como Leiria, que Eça de Queirós invoca nas suas descrições.
A artista
transporta esse ambiente para um mundo provinciano iconograficamente rico e contraditório,
de um catolicismo sensual. O que nos mostra é, acima de tudo, o interior mais profundo
do próprio coração: as regiões mais íntimas e mais escuras que já alguma vez explorara.”
in “Paula Rego e o Crime do
Padre Amaro” – 1999 (excerto)
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