ADÍLIA LOPES
(Lisboa, Portugal, 1960)
Poetisa,
tradutora
***
Adília Lopes apresenta-se nos seus versos como uma freira poetisa barroca portuguesa. O
percurso meteórico da sua obra na literatura portuguesa poderia ser um case study de como uma poesia marginal
alcança o coração do cânone literário ou sobre como deixar “prognósticos só
para o final do jogo.”
Autora de uma poesia inteligente e provocadora, Adília
Lopes passou das primeiras edições de autor, obras de culto de uma minoria, a
ser lida nas salas de aula de Literatura Portuguesa um pouco por todo o mundo.
Este percurso tem o seu clímax na publicação de Dobra, a poesia reunida em obra completa, em 2009.
Encontramos ecos
da sua obra em vários campos da nossa contemporaneidade, sejam estes os da
arte, com as gravuras que Paula Rego lhe dedica, ou o da música, em letras de
bandas como "A Naifa".
in “Universidade de Coimbra” (excerto)
***
Para um Vil Criminoso
Fizeste-me
mil maldades
e
uma maldade muito grande
que
não se faz
acho
que devo ter sido a pessoa
a
quem fizeste mais maldades
nem
deves ter feito a ninguém
uma
maldade tão grande
como
a que me fizeste a mim
não
sei se tens remorsos
tu
dizes que não tens remorsos nenhuns
porque
dizes que és um vil criminoso
para
mim
eu
também sou uma vil criminosa
mas
não para ti
desconfio
que tens o remorso
de
ter alguns remorsos
por
me teres feito mil maldades
e
uma maldade muito grande
a
maldade muito grande está feita
e
não se faz
acho
que essa maldade muito grande
nos
aproximou um do outro
em
vez de nos afastar
mas
para mim é um drôle de chemin
e
para ti também deve ser
mas com um vil criminoso nunca se sabe
in “Um Jogo Bastante Perigoso”
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