segunda-feira, 29 de abril de 2019

ANTÓNIO FEIJÓ - Pálida e Loira


ANTÓNIO FEIJÓ
(Ponte de Lima, Portugal, 1859 - Estocolmo, Suécia, 1917) 
Poeta

***
Apesar de na sua poesia se reflectirem a obsessão da decadência e a ironia do desencanto, assume sempre uma atitude aristocratizante perante a vida e a arte, o que, aliado à perfeição formal dos seus versos, lhe dá jus ao primeiro lugar entre os poetas parnasianos portugueses.

in "Portugal Século XX"

***
  
PÁLIDA E LOIRA


Morreu. Deitada num caixão estreito,
pálida e loira, muito loira e fria,
o seu lábio tristíssimo sorria
como num sonho virginal desfeito.

Lírio que murcha ao despontar do dia,
foi descansar no derradeiro leito,
as mãos de neve erguidas, sobre o peito,
pálida e loira, muito loira e fria.

Tinha a cor da rainha das baladas
e das monjas antigas maceradas
no pequenino esquife em que dormia.

Levou-a a morte em sua garra adunca,
e eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
pálida e loira, muito loira e fria.

 





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