(Lisboa, Portugal, 1928 - 1953)
Poeta
***
O
AMOR DE ARTHUR RIMBAUD
O MESTRE DO SILÊNCIO
Na
montanha onde moram as estrelas
bosques
que existem há mil anos
de
cabelos negros como o luar e a brisa da tarde
quando
entra branda entre as pétalas das flores
que
se inclinam sobre o morto que dorme
e
misteriosamente repete:
«Sur
l'onde calme et noire où dorment les étoiles
Un
chant mystérieux tombe des astres d'or»
semi-saído
da terra com um olho infinito aberto
morto
há um ano ao nascer da lua
morto
há um dia ao nascer da rosa
morto
há um sonho, morto há um gesto
frente
ao sopro das árvores da noite
tocou
o seio infante numa primavera
e
misteriosamente repete:
«O
pâle Ophélia! belle comme la neige!
Ciel!
Amour! Liberté! Quel rêve, ô pauvre Folle!»
transparente
sobre a terra mole de lava de estrela
sobre
cabelos idênticos aos dos mortos desolados
morto
há mil anos repete:
«La blanche Ophélia flotte comme un grand lys»
o
morto misteriosamente diz:
«Il y a une horloge qui ne sonne pas»
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