segunda-feira, 8 de abril de 2019

ANTÓNIO MARIA LISBOA - O Amor de Arthur Rimbaud – O Mestre do Silêncio


                          ANTÓNIO MARIA LISBOA
(Lisboa, Portugal, 1928 - 1953)
Poeta

***

O AMOR DE ARTHUR RIMBAUD

   O MESTRE DO SILÊNCIO

Na montanha onde moram as estrelas
bosques que existem há mil anos
de cabelos negros como o luar e a brisa da tarde
quando entra branda entre as pétalas das flores
que se inclinam sobre o morto que dorme
e misteriosamente repete:

«Sur l'onde calme et noire où dorment les étoiles
Un chant mystérieux tombe des astres d'or»  
semi-saído da terra com um olho infinito aberto
morto há um ano ao nascer da lua
morto há um dia ao nascer da rosa
morto há um sonho, morto há um gesto
frente ao sopro das árvores da noite
tocou o seio infante numa primavera
e misteriosamente repete:

«O pâle Ophélia! belle comme la neige!
Ciel! Amour! Liberté! Quel rêve, ô pauvre Folle!»
transparente sobre a terra mole de lava de estrela
sobre cabelos idênticos aos dos mortos desolados
morto há mil anos repete:

«La blanche Ophélia flotte comme un grand lys»
  
o morto misteriosamente diz:

«Il y a une horloge qui ne sonne pas»





Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...