JÁN KOSTRA
(Eslováquia, 1910 – 1975)
Poeta,
pintor, tradutor
***
Foi um poeta
com uma expressão extremamente refinada e filosofia lírica original. Durante toda a sua vida confirmou o conceito de que o poema continua
sendo o único castelo de segurança humano: seguro para o poeta e um paraíso
aberto para uma alma miserável.
***
DAVA A ÚLTIMA CAMISA POR UM POEMA
Dava a última camisa por um poema.
Domingo ao fim da tarde só restam cinzas.
Domingo ao fim da tarde só restam cinzas.
Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo, o
quê?
Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira?
Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira?
Terça
tão comprida como um ano
tão comprida como um ano
Quarta,
outra vez a esperança
Não, sem poema não se pode viver!
Não, sem poema não se pode viver!
Quinta a
memória entra em pânico
A pouca claridade que restava anoiteceu
A pouca claridade que restava anoiteceu
também na sexta
as vagonetas com o meu minério
perdem-se no túnel.
perdem-se no túnel.
Sábado:
trabalho em vão!
trabalho em vão!
Domingo tudo recomeça e voltava a dar
a última camisa por um poema
a última camisa por um poema
Tradução:
Ernesto Sampaio
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