segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Prémio Camões - 1996

 

Eduardo Lourenço nasceu em 1923.
Foi galardoado com o Prémio Camões, em 1996. Recebeu-o no Rio Janeiro, em Abril do mesmo ano.
Professor universitário, filósofo e ensaísta, é uma das personalidades mais destacadas da cultura portuguesa contemporânea.

 

“O povo brasileiro é um povo cheio de humor. Não é culpa dele se é um povo demasiado grande para a memória que tem, como nós somos um povo pequeno de mais para a memória imensa que ao longo dos séculos refluiu para o nosso coração e nos sufoca.”
Eduardo Lourenço


Excerto do livro “Tempo e Poesia” :

“A poesia é expressão de origens. Solicitado pela noite animal e a plenitude solar, um poeta talhou na rocha uma forma visível da sua condição. Compreender a Esfinge, compreender a poesia é olhá-la sem a tentação de lhe perguntar nada. E aceitar o núcleo de silêncio donde todas as formas se destacam. A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe. Por isso os poetas que imaginam dizer tudo são tão vãos como as estátuas gesticulantes.

 Agora é fácil compreender como pôde nascer o mistério da esfinge. O enigma da poesia. Ele existe para homens incapazes de acolher esse silêncio original. Gente que não compreende, enquanto não substitui a irredutível figura de uma obra, a ímpar forma de um poema, por uma palavra, por um discurso.

 Só o criador sabe que no lugar de uma forma não havia outra forma e que o dicionário é impotente para os filólogos quanto mais para os poetas.

 Mas há os outros, os arqueólogos do coração e da inteligência, “outros” que podem ser os próprios poetas quando deixam de estar vigilantes. Assim aconteceu ao criador da Esfinge (daquilo a que os “outros” chamariam Esfinge).”

 
Eduardo Lourenço, in “Tempo e Poesia”

2 comentários:

  1. Tive o grande prazer de conhecer pessoalmente este que é grandioso na sua humildade!

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    1. É, de facto, uma das nossas grandes personalidades da cultura portuguesa.
      Obrigado pelo seu comentário. Cumprimentos.

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