domingo, 15 de junho de 2014

Herberto Hélder

 
 


                                        

Herberto Hélder nasceu, em 1930, no Funchal, Ilha da Madeira, Portugal.

É um dos introdutores do Movimento Surrealista em Portugal e um dos principais entusiastas da poesia experimental ou concreta.

A sua obra é, sem dúvida, uma das mais relevantes da poesia portuguesa contemporânea.

Em 1994, recusou receber o “Prémio Pessoa”.

 

Palavras de Herberto Hélder

“Em poesia, formal, conceptual, estético e humano significam, conjuntamente, «linguagem». E poesia, como diria certo crítico norte-americano, é linguagem. Isolar o implícito, explicitando-o, servirá apenas para estabelecer um sistema insolúvel de situações.”
 
 
        Se houvesse degraus na terra...
 
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
 
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
 
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
 
 
Herberto Hélder, in “A Faca Não Corta o Fogo”
 
 
 
 



 
 



 
 
 
 

 

 

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